Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 17

Difícil a tarefa de escrever sobre um filme como Planeta dos Vampiros. Após uma sessão com essa obra de Mario Bava muitos podem perguntar: mas afinal, qual é a desse filme? Que a grandeza de Bava e de tantos out- ros cineastas do horror italiano é da ordem da evidência ninguém duvida. Mas esse Planeta dos Vampiros (1965) nos dá a vontade de investigá-lo mais a fundo, entender seus meandros, sua ciência e aventura. Terreno esse de difícil acesso, tal qual a jornada da tripulação rumo a um planeta desconhecido. Quem vasculha no passado sabe que ainda hoje é possível achar, em bancas de revista de interior ou nos sebos mais empoeirados, aque- les livrinhos baratos tão populares nos anos 60, 70 e depois (o passado sempre reverbera mais pra quem tem saudade ou onde o “novo” demora mais a chegar). Faroestes, aventuras eróticas, suspenses de teor gótico, e eventualmente, viagens ao espaço desconhecido. Muitas dessas obras, relegadas pelas intelligentsias a categoria de baixa literatura, serviram de inspiração para cineastas levarem a cabo um projeto de criação de mun- do, à imagem e semelhança dos horrores e fantasias da imaginação. Foi nos escombros da Cinecitta que os estertores do horror ital- iano forjariam um estilo e um mundo onde, diferentemente de um Ros- selini, a realidade brota de um outro lugar- das profundezas obscuras dos seres. Um cinema popular e de baixo custo e alto nível de inventividade que - certamente - desagradou a já citada intelectualidade. Faltava-lhes a emoção e a liberdade do olhar. Mas falávamos de Planeta dos Vampiros, exemplar sci-fi (e única incursão de Mario Bava no gênero). Os restos de cenários que servi- ram para épicos da “era de ouro” do cinema italiano eram reaproveitados para transformarem-se em naves espaciais e planetas desconhecidos. Um desses planetas, Aura, é rondado pelo espectro do terror e do desconheci- do: bastou adentrar nele que a tripulação (capitaneada por Barry Sullivan e que contava em suas fileiras com Norma Bengell) passou a liberar os instintos mais brutais. É a “loucura” se apoderando das racionais mentes balizadas pela ciência. Abandonai aqui toda a esperança, e deixai a razão do lado de fora. Na verdade os travellings e o artesanato cinematográfico irão rev- elar as nuances de Aura, o planeta que liberará as energias que farão os 17