Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 14
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se sujeitam a uma cirurgia plástica que as transforma num corpo previa-
mente escolhido em um catálogo. Cinturas finas, cabelos perfeitos, rostos
simétricos e agradáveis. Aqui, vejo um outro tipo de personagem recor-
rente na série. Ao contrário do homem que é seu próprio pior inimigo, a
personagem principal desse episódio é uma mulher que luta contra uma
norma imposta a ela. Ela luta, mas não termina bem.
O mesmo pode ser observado em The Obsolete Man (O homem
obsoleto), em que um bibliotecário é considerado obsoleto pelo estado
totalitário sob o qual vive e, por isso, deve ser executado. A sua luta é
muito mais intelectual e psicológica do que física, o que condiz com
o personagem, e, mesmo também não terminando bem, ele consegue
provar um ponto: um Estado que não reconhece o valor, a dignidade e
os direitos do homem é um Estado obsoleto, como afirma o narrador no
início do episódio.
Uma das coisas que mais me fascina em The Twilight Zone é a sua
simplicidade. Em preto e branco, os episódios raramente se passam em
mais de uma ou duas locações e mais raramente ainda contam com efei-
tos extravagantes. A capacidade que a série tem de transformar cenários
mundanos - casas, apartamentos, ruas, cafés, lojas - em locais propícios a
coisas anormais é notável. Um dos maiores exemplos dessa simplicidade
é o episódio The Invaders (Os invasores): uma nave pousa na casa de
uma senhora. Ela tenta destruir os minúsculos astronautas que saem da
nave. E é isso. Quase não há diálogo ou ação outra que a luta. São mais de
20 minutos apenas de uma pessoa lutando pela sua vida e em momento
algum isso se torna cansativo. Pra melhorar, ainda tem um plot twist final
que, mais uma vez, questiona quem é o verdadeiro vilão.
No entanto, a série não deixa de apresentar problemas eventual-
mente. Muitas das surpresas finais são previsíveis ou clichês (ela esta-
va morta o tempo todo, era só um sonho, etc). Mesmo assim, alguns
episódios com final previsível têm bastante impacto, como The Eye of the
Beholder (Os olhos de quem vê)- que denuncia seu final pelas escolhas
de câmera que, por mais de 20 minutos, não mostra o rosto de nenhuma
personagem -, mas possui um final que mesmo não sendo tão surpreen-
dente, funciona.
Alguns clichês também são retrabalhados, como a famosa saída fácil