Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 45

O malandro é um ícone do brasileiro, fato este inegável, tendo como exemplo até o Zé Carioca, o malandro em penas. Então, por que não fazer uma história totalmente brasileira – ou quase - com esse personagem? Assim nasce a “Ópera do Malandro”, obra escrita por Chico Buarque e baseada na “Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht. Pela distância histórica das versões, algumas adaptações são feitas pelo contexto histórico-sociais diferentes. Nessa época de Ditadura Mi- litar, a peça da “Ópera do Malandro” é encenada pela primeira vez, em 1978, ano em que o AI-5 é retirado da constituição. Em 1985 ocorre a queda do governo militar e essa história volta ao público em formato de fi lme. Além disso, tem-se a irônica presença dos EUA fortemente coloca- da nos anos 80, mesmo tendo sido esse país o responsável pelo período de terror brasileiro, investindo grandes quantias de dinheiro – o Milagre Econômico brasileiro – para que o Brasil não se tornasse comunista. Falando em capital, esse é o assunto principal que permeia a obra de Chico Buarque, como ele próprio diz em sua entrevista de 1978 para a revista “Isto É”: “A peça enfoca o fi m do capitalismo autoritário e a en- trada no país do capital estrangeiro.(...) Não há mais lugar para as pequenas falcatruas, as mais “inocentes”. Você tem que pensar alto quando vai cometer uma malandragem. O clima envolve opressores e oprimidos, a decadência de uma época...” (Buarque, 1978) Isso se dá na obra com Max Overseas, o malandro, que trabalha fa- zendo contrabando de itens dos EUA para o Brasil. Tudo se altera quan- do Ludmila/Teresinha aparece e faz com que seu negócio se transfor- me em uma fi rma de importação com capital estrangeiro, além de estar 45