Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 34
que viajam sem rumo, e que gostam mesmo é “de não fazer nada”; a
proprietária (portanto, ladra) de terras e que expulsa os moradores que
não têm onde fi car; o advogado falcatrua que, apesar de “meio quadrado”
gosta de jovens e tenta, ridícula e esforçadamente participar da libertação
sexual antes de libertar a mente; e o poeta ermitão que mata a marretadas
quem ousar invadir a ilha sem ter compreendido a essência dos prazeres
proibidos. Ou seja, um espaço mítico marcado pelo signo da diferença,
onde suaves travellings mostram a tentativa de homens e mulheres em
integrarem-se à natureza selvagem. Algo que não é possível para todos.
Não apenas pelas múltiplas referências e citações disparadas ao lon-
go do fi lme, mas pela sua própria existência e papel crucial dentro de
um projeto de cinema em construção, mas já com estrutura, “Império do
Desejo” contrabandeou (sob a superfície de “mais uma pornochanchada
produzida pelo Galante”) subversão e radicalidade, mas sobretudo, um
cinema maior, liberto e libertador. Ao seu fi nal, tal qual o viajante após o
orgasmo, pode se resumir o fi lme com um grito de felicidade.
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