Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 33

“O fi lme é como um campo de batalha. Amor, ódio, ação, violência, morte. É uma palavra – emoção.” (Samuel Fuller.) “A propriedade é um roubo”(Pierre Joseph Proudhon) Há quem diga que todos os grandes fi lmes tratam, no fundo, de um único grande tema: o cinema. No subdesenvolvimento econômico e es- tético do cinema brasileiro (estamos aqui no início dos anos 80), isso se torna ainda mais latente, pois o fi lme em si já é uma matéria bruta de resistência, busca e inconformismo. Nesse contexto, Carlão Reichenbach é o autor exemplar, cuja obra vai ser marcada pelo trânsito na Boca do Lixo, pelo contrabando de ideias, pela cinefi lia que deságua na realização artesanal do muito com pouco (como no cinema de Mario Bava, grande herói de Reichenbach) e por uma liberdade poética de tintas literárias, fi losófi cas e eruditas, mas nunca esquecendo que o amor à vida que corre 24 quadros por segundo é o norte. Afi nal, uma das máximas da rua do Triunfo era a de é melhor ter a mãe xingada do que ser chamado de in- telectual. Em “Império do desejo”, temos a materialidade de um certo ideário político que acompanhou ao menos duas décadas do cinema brasileiro, apresentado como síntese. Pois se os cinemanovistas fracassaram em seu contato com o público, a pornochanchada na virada dos anos 70/80 lotava os cinemas de rua, nos centros e periferias. E o projeto de Rei- chenbach passa por essas vias, onde popular, erudito, Godard, Roberto Santos, música clássica e Boca do Lixo podem conviver em pé de igual- dade. Assim como os corpos que transitam pela mítica Ilha dos Prazeres Proibidos (1979), base conceitual e formal de Império do Desejo. Temos a praia, ambiente que foi cenário de Barravento, Limite, A Mu- lher de Todos, como o ponto de encontro do casal de jovens beatnicks 33