Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 20

Cinema Brasileiro dos Anos 80 HATARI!
mente nostálgico e belo, inclusive usando como trilha a música de A Margem. Ele filma companheiros cineastas como Carlos Reichenbach, Ody Fraga, Jairo Ferreira e ele mesmo olhando fotografias. Talvez, ao filmar isso, ele filme a cena mais convidativa do filme, afinal, nostalgia é saudade e essa saudade a gente, que assiste, também sente.
Candeias filma com um olhar de curioso. Curiosidade essa às vezes sem muito pudor e completamente desprovida de nojo. Candeias não coloca luvas ao entrar na cidade e nas pessoas – marginais- que lhe dão vida e que nela trabalham e sobrevivem. Tudo que acontece simplesmente acontece, não existem julgamentos. Por isso mesmo imagino o cinema dele como curioso. Curiosidade e interesse não existem a partir de julgamentos. Figuras recorrentes nos filmes dele são os aleijados. Candeias entendia que não precisava ser aleijado para filmar aleijados. Principalmente no Bellas da Billings, mas também em AOpção, Candeias exerce um fascínio pela figura do deficiente físico. Ele não julga, não ridiculariza nem os diminui. Ele filma com um olhar fascinado por aquele que arranja jeitos de fazer o que supostamente lhe seria impossível, viver normalmente, trabalhando, se locomovendo, inserido no dia a dia da cidade e na vida de outras pessoas.
Candeias tem 4 filmes realizados durante os anos 80. AOpção, ou as Rosas da Estrada( 1981), Manelão, o Caçador de Orelhas( 1982), A Freira e a Tortura( 1983), e As Bellas da Billings( 1987). Infelizmente, entre esses, o que assisti em melhor qualidade foi A Freira e a Tortura.
20
A Freira e a Tortura é um filme que difere dos outros filmes de Candeias, apesar de ficar bem claro que é um filme dele. O filme é uma adaptação de uma peça, porém muito mais contida do que a adaptação de Hamlet que Candeias faz em A Herança( 1970). A Freira e a Tortura é um filme