Mas este lamento generalizado de quebra moral e perda de
valores não pode ser atribuído a casos concretos de corrupção
política. Como observou D. Innerarity, essas crises de valores
acompanharam sempre o processo de modernização social e
política.3 Hoje, como já dito, estamos ante uma necessidade de
mudança nas formas de governar, dado o esgotamento do
modelo baseado na prestação e gestão de recursos, assim como
em uma forma de fazer política própria de sociedades bem delimitadas territorialmente e integradas politicamente no marco
do Estado-nação.
As metodologias e técnicas da gestão relacional se inspiram
e só podem desenvolver-se em um contexto de valores e
virtudes próprios das sociedades abertas. De outro modo, é
muito difícil identificar estratégias compartilhadas, estabelecer
a negociação relacional, ou desenvolver o enfoque abrangente
em ciências sociais etc.
A governança requer duas condições para ser considerada
como um novo enfoque em Ciências Sociais, e como um modo
apropriado de governar na sociedade em rede: que a verdade
ou a falsidade de suas teses principais, das bases detalhadas e
explicativas, seja demonstrável pela lógica e que suas explicações se adaptem aos fatos e sejam, portanto, suscetíveis de
prova. Porém, o fato de que este novo enfoque de governar seja
considerado objetivo ou racional-científico não significa que
esteja livre de valores, como lembra Hempel.4 Pelo contrário,
como já observamos, existem valores e condições sociais e
econômicas que permitem um maior/menor desenvolvimento
desta teoria, tanto em nível conceitual quanto prático.
3 INNERARITY, D. El nuevo espacio público. Madrid: Espas Calpe, 2006. p. 188.
4 “A adequada solução para um problema não só exige o conhecimento dos meios
técnicos, mas também de padrões para avaliar os meios alternativos à nossa
disposição; e este segundo requisito coloca problemas reais”. Em La explicacion
científica. Barcelona: Paidós, 2005. p. 118
Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades
199