FutAfrica Setembro 2013 | Page 34

Quando meninos de 12 anos jogam à bola, treinam e competem entre si é evidente que se estão a criar as raízes daquilo que é a base da sua formação futebolística.

Cabe às federações africanas, enquanto entidades responsáveis pela respectiva organização das competições internas do respectivo pais (e, desse modo, pelas regras de inscrição e participação dos atletas, por escalão, nessas mesmas competições) assegurar, por esta via, a identificação dessa formação, e de forma extensiva, por forma a identificar todos aqueles que pegam na bola por qualquer clube.

Só dessa forma a formação em África, desde a mais tenra ideia, terá, pelo menos, a virtualidade de se transformar, mais tarde, em “valor” a ser reaproveitado no futuro na formação de outros jovens atletas no clube e no país.

Há, portanto, um investimento, óbvio, na organização dos campeonatos em África.

É evidente que o Sporting Clube de Portugal, clube formador de Nani, está em condições de fazer valer o seu direito a este mecanismo quando um Nani, ou qualquer outro jogador a quem o clube tenha dado formação, se transfere para um qualquer outro clube europeu.

A questão é se tivesse o Nani, jogador, de origem cabo-verdiana, feito a sua formação em Cabo Verde onde nasceu, estariam os clubes em cabo verde nas mesmas condições de reclamar o que era seu?

E refiro-me a Cabo Verde, podendo se calhar, com mais propriedade, falar de outras regiões e países do continente africano mais desfavorecidas do ponto de vista económico e desportivo.

Pois, de facto, as assimetrias existem. E existem assimetrias no acesso à informação. Existem diferenças entre clubes africanos e europeus. E existem diferenças entre os próprios clubes africanos da mesma forma que existem diferenças entre clubes europeus.

Não estará nas mesmas condições o clube que tem atrás de si uma rede de advogados e outros agentes ligados ao futebol que auxiliam na obtenção desse “valor”, e o clube que, pura e simplesmente, sem capacidade financeira, não os tem. E, no entanto, participando na formação dum atleta, tanto um como outro têm direitos que, naturalmente, é do interesse de cada um proteger, e em última análise, da respectiva federação proteger.

Creio, aliás, que devia cada federação assegurar a devida “certificação” do percurso do atleta (tantas vezes ignorado, sobretudo, nas camada de formação mais jovens).

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"A questão é se tivesse o Nani, jogador, de origem cabo-verdiana, feito a sua formação em Cabo Verde onde nasceu, estariam os clubes em cabo verde nas mesmas condições de reclamar o que era seu?"

Setembro, 2013