Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 118
Maria Rosaria Manieri
moderna sociedade capitalista, em que o núcleo prescritivo está
dilacerado e corroído pelo princípio do individualismo e da troca.
Sua teoria constitui a narrativa mais sugestiva da formação
capitalista no Ocidente europeu; a crítica mais sólida à eco-
nomia, à sociedade e à organização política do capitalismo. Em
sua formulação confluem e convivem, como se observou, 16 ele-
mentos de extraordinária modernidade, sobretudo na descrição
do modus operandi econômico do sistema capitalista, e ele-
mentos teleológicos, que, no entanto, mostram-se importantes
no plano da ação política.
Um destes elementos, o fundamental e decisivo em relação
ao futuro, é a ideia de fraternidade como princípio organizador
da comunidade, em contraposição ao egoísmo individualista no
qual se sustenta a sociedade capitalista moderna.
Marx não oferece uma análise explícita e orgânica de tal
princípio, como, aliás, de qualquer outro tema capaz de fornecer
material para receitas das cozinhas do futuro, mas é inteira-
mente evidente que, na visão marxiana da economia, a fraterni-
dade representa “o espírito da nova era” que, como observava
Engels, “é impossível resumir em poucas palavras sem cair no
utopismo ou em frases vazias”. 17 Ela é a exigência nova que
emerge do desenvolvimento capitalista moderno e é a rosa na
cruz da revolução proletária.
Marx reconhece à burguesia capitalista “a função sumamente
revolucionária” que teve na história: “Ela primeiro mostrou o que
pode fazer a atividade humana. Criou maravilhas completamente
diferentes das pirâmides do Egito, dos aquedutos romanos e das
16 S. Veca, Questioni di giustizia, Parma, Pratiche, 1985, p. 177.
17 F. Engels, Lettera a G. Canepa del 9-1-1894, in K. Marx e F. Engels, Opere complete,
Roma, Riuniti, 1977, p. 215.
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