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nome de família para se ser escolhido. O Friedrich
não tinha uma coisa nem outra. Acendeu uma
fogueira e despimo-nos, deixámos a roupa a secar
em cima de uns galhos e rastejámos para dentro da
tenda. Quando o corpo dele entrou no meu, já nada
mais havia em mim que não lhe pertencesse.
Ligada, sinto-me ligada. Como uma lâmpada.
Adormeci nos braços dele. Ouvi um barulho lá fora,
fiquei com medo que fosse algum animal
selvagem, espreitei por uma fenda da lona. Três
vultos montavam uma tenda ali perto. Os três
deuses, sem dúvida. Consegui ouvir o que diziam.
Percebi que falavam de mim. É bom amar alguém,
disse o primeiro deus, ela vai ser ainda melhor.
Bom é ser amado, ela pode ficar bem pior, disse o
segundo deus. O amor cega, vai ficar sem ver mais
nada, disse o terceiro deus, até a nós vai deixar de
ver. Isso não, disse o primeiro deus, porque não?,
disse o segundo deus, como não?, disse o terceiro
deus. Acordei com o sol a bater na tenda e o
Friedrich aninhado nos meus braços. Os deuses já
tinham desmontado a tenda deles e partido.
Agora a sombra nos olhos. Sei pintar-me bem. As
sombras no sítio certo, os olhos iluminam-se. Um
lápis marca os contornos, outro desenha melhor os
lábios. Compor o trabalho apressado dos deuses. E
o que o tempo estragou. Nunca estou parecida
comigo. No espelho nunca estou.
Ainda estávamos nus. Amo-te, disse eu. O amor é
um luxo quando a barriga e os sonhos passam
fome, resmungou o Friedrich. Mas prometeu que
vinha aqui ter. E que não voltava a subir para o
muro da ponte. Roubei-o às águas, é meu. E eu
dele. Ligada. Sinto-me ligada. Como uma lâmpada.
5. Basílio
O corpo dorido, a cabeça a mil. Sabe bem estar
assim, outra vez no chão, todo deitado no chão, a
sentir o fresco dos mosaicos e o relevo das raízes
por baixo de mim. São as raízes da oliveira, os altos
e baixos, em certos sítios rebentaram o betão e
uma corda grossa espreita, carnuda e húmida.
Estendem-se por todo o lado, avançam
devagarinho, devagarinho, à procura de água, sem
descanso, se for preciso rebentam canos, entram
nas casas. Lá fora, no terreiro, a oliveira é mirrada e
velhinha mas aqui dentro, aqui por baixo, as raízes
são fortes, cheias de vida. O Canivetes diz que é a
oliveira mais antiga do mundo, que os homens que
andaram de volta dela há dias vão provar que tem
três mil anos, talvez mais, as oliveiras duram muito
tempo. Mas não se pode confiar no que o Canivetes
diz, há quem receie que os homens tenham vindo
ver a oliveira para a mandar abater. Se for isso, o
que será que acontece às raízes?, para que é que
vão continuar à procura de água se já não houver
tronco? E se as raízes também morrerem, como é
que fica o chão?, não endireita de certeza.