Fluir nº 4 - fevereiro 2020 | Page 44

momentos perdidos e irrecuperáveis, negados pelos momentos negativos onde nos sentimentos subestimados, mas como a lembrança de que seremos sempre dignos do nosso mérito independentemente do que acontecer posteriormente. Há que distinguir e escolher as nossas memórias conforme os eventos fortuitas do presente. Há que aproveitar os nossos autênticos contemporâneos, a coexistência com as ideias e as pessoas que nos libertam da parte da memória que se revela infrutífera. O rapaz levantou-se repentinamente, reparando que o nascer do sol se aproximava. Quando o desconforto e a debilidade que sentia desvaneceram, entrou em casa e bebeu um expresso duplo sem açúcar. Esperou que arrefecesse, lentamente, e sentiu a chávena quente nas mãos. Sentou-se no cadeirão ao lado da televisão e bebeu metade de uma vez. As memórias que tinha e que se transformaram num sentimento de nostalgia eram nada mais que a sua humanidade a ser revigorada pela lembrança de instantes, diálogos e sentidos aparentemente amargos, mas verdadeiramente profícuos para o seu autoconhecimento. 44