Uma mulher sempre para no mesmo lugar da cidade
Luís Maffei
Uma mulher sempre para no mesmo lugar da cidade para esbravejar melodicamente o fim do mundo . É sua guitarra elétrica quem emite o riff do apocalipse – – avisa-o um cartaz escrito à mão , pregado numa cravelha . O riff é basicamente um trítono distorcido por um pedal vindo diretamente do passado , ainda que não da Idade Média . A mulher com sua gritada guitarra recalcitrante jamais recebe qualquer trocado , nem o deseja . O amor foi o que a fez passar a brandir , dia após dia , seu instrumento pelo fim do mundo . Não exatamente o amor , mas o fim , após seu amado deixá-la e se tornar CEO de sucesso numa multinacional . Há quem suponha que aquele riff não é a música do fim do mundo , mas o fio que sustenta o que ainda nos resta de vida .
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