ENTREVISTA - Martine Gasparov
Gaëlle Instanbul
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Os sons da filosofia : ressonâncias , silêncios e burburinho Ou como a banda desenhada pensa a experiência quotidiana das nossas vidas
Fluir - Como nasceu , em ti , o gosto pela filosofia ?
- O meu encontro com a filosofia foi da ordem de revelação , uma espécie de ' relâmpago na noite ', para retomar a imagem de Plotino . Tinha quinze anos e ouvia pela primeira vez um discurso que dava sentido a tudo o que estava em meu redor , àquilo que eu via , àquilo que eu fazia – talvez até mesmo ao que eu desejava , ainda que de modo confuso , vir a ser . Um discurso de verdade , em suma .
Fluir - ... e , depois , o da arte ?
Foi um processo mais lento e mais complexo . À primeira vista , diria que se deveu a uma sucessão de acontecimentos : um professor de alemão apaixonado pelo teatro e pela ópera que nos levava regularmente ao Théâtre National de Strasbourg e à Opera du Rhin , um disco de Chopin comprado com algumas economias , um trabalho de estudante no Musée d ' Orsay ..., mas , retrospectivamente , pergunto-me se se tratava verdadeiramente de acasos . Vamos sempre na direcção daquilo que nos faz existir em suplemento ; por vezes , vamos pelo caminho errado , e damo-nos conta disso bastante depressa . Esse gosto pela arte desenvolveu-se lentamente , o itinerário foi sinuoso , até acidentado . Tive uma relação conflituosa com a literatura na minha juventude . Continuo hermética à dança e à escultura . Contudo , o teatro , a música , a literatura e a pintura tornaram-se essenciais .
Fluir - Como apareceu o projecto de criar álbuns sobre temas filosóficos adaptados à juventude a partir da banda desenhada ?
Esta série de bandas desenhadas está ligada a uma certa concordância dos tempos . Ensinei durante muito tempo nos subúrbios parisienses , em lugares onde a palavra é um desafio do quotidiano , nomeadamente para os jovens que procuram encontrar o seu lugar e que têm uma conexão muito viva com a língua ; mas ela também é um ponto de fragilidade para eles , nomeadamente quando se trata de fazer um uso teórico , preciso e minucioso das palavras . Neste contexto , era óbvio que eu não podia ter o mesmo tipo de discurso que tinha recebido , eu própria , na minha aprendizagem filosófica ; o meu primeiro professor de filosofia assegurava uma aula ' magistral ' em todos os sentidos do termo , ao mesmo tempo brilhante