se virou de vez para outros lados .
Passaram-se alguns anos e não posso garantir que o encontro com o grafiti me tenha tornado num homem menos preguiçoso . De uma coisa , no entanto , estou seguro : a minha tia-avó não tinha razão . Ela que mal via palavras escritas na fachada de um prédio berrava contra “ estes criminosos inúteis ”, e daí para baixo , não era sensível à ideia de que por trás dos rabiscos que tanto lhe desagradavam poderiam estar os La Rochefoucaulds do nosso tempo . Profetas que expõem , com palavras milimétricas , o que nós amamos esconder . Eu fiquei convencido de que sim .
E apesar de não ter nada contra o progresso da civilidade , diante das paredes impolutas da freguesia onde vivo , diante da longa fila de edifícios envidraçados que percorro todos os dias para chegar ao trabalho , os meus tímpanos de bom cidadão sentem falta de alguma coisa . Um grito de tinta , talvez , tão honesto e tão agudo como o que ouvi numa noite de Primavera , no bairro das Laranjeiras .
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