Fluir nº1 - Renascimentos - 2018
Figura 1 - O despertaDOR
na XIX Bienal de Cerveira, em 2017
aproximem pela cor e pela forma e depois, despertar
um olhar mais atento para o que se passa no interior
dessa estrutura colorida. A arte sempre teve esta
vertente de exposição da inconformidade e utilizou
todos os seus recursos para o fazer. As novas formas de
arte, dentro da média-arte digital, possuem novos meios
que devem ser colocados à disposição de causas. Se
pensarmos quão longe podem chegar as intervenções
que recorrem à internet, encontraremos a resposta que
justifica todo o trabalho que se possa ter.
4. O que a levou à criação do despertaDOR? Que
sensibilidade, que conhecimento, que consciência?
Eu, como a maioria das pessoas, vivi grande parte da
minha vida sem a consciência do uso, exploração e
violência que exercemos com os animais. Pensei que
eram os outros que o faziam pois eu nunca matei,
nunca espanquei nem violentei nenhum animal. E sim,
fi-lo. Ao consumir, ao assistir a espectáculos, ao
comprar produtos que têm animais envolvidos na sua
confecção. Isto é, ninguém é isento de causar dor; ao
comprar uma mala de pele estamos a pedir que se
façam mais e as pessoas não sabem de que modo essas
peles são obtidas; os gorros com pompom de pelo, que
foram moda este inverno, têm na sua origem uma
cadeia de sofrimento horrível, da qual poucos têm
consciência. Se eu sei, é meu dever mostrar.
5. Leio o despertaDOR como uma proposta de
renascimento da maneira como o homem percepciona os
outros animais e se relaciona com eles. É possível esse
renascimento? Tem sido um processo central na tua
vida?
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Essa terá sido a maior mudança que aconteceu na
minha vida. O despertar para algo que sempre existiu e
eu nunca tinha visto. Se isto aconteceu comigo, é
possível que aconteça com os outros. O meu maior
desejo é que cada vez haja mais pessoas a verem, a
mudarem a sua percepção. E eu gostaria de poder
contribuir com uma ínfima parte que fosse. O
despertaDOR é um dos meus contributos.
6. Chocar as pessoas, magoá-las, fazê-las sofrer, será
mesmo um modo de as tocar e as mudar? Sei que o
despertaDOR esteve já exposto noutros lugares: a que
reacções assististe? Que noção tens daquilo que,
efectivamente, o despertaDOR despertou (passe a
redundância) em pessoas que se confrontaram com ele?
Essa é uma velha discussão e nunca saberemos qual é a
resposta correcta. Alguns estão tão perto da mudança,
que basta uma pequena acção para que mudem. Outros
estão tão longe, tão alheados da realidade que não há
coisa que os demova. Isso não faz das pessoas “más
pessoas” mas essas são as que contribuem,
inocentemente, para a grande chacina. Os meios
violentos de revelação podem ter duas consequências:
ou fazem mudar e já valeu a pena, ou provocam uma
reacção profunda de repulsa que terá como resultado o
desprezo e o alheamento ainda maior. Por isso, nunca
saberemos de que lado está a razão, por isso, mais vale
deixar-nos ser guiados pela sensatez. Neste momento
penso que a maior luta é mostrar sem chocar – o que
eleva o desafio.