Fluir nº 1 - setembro 2018 | Page 26

Fluir nº1 - Renascimentos - 2018 Figura 1 - O despertaDOR na XIX Bienal de Cerveira, em 2017 aproximem pela cor e pela forma e depois, despertar um olhar mais atento para o que se passa no interior dessa estrutura colorida. A arte sempre teve esta vertente de exposição da inconformidade e utilizou todos os seus recursos para o fazer. As novas formas de arte, dentro da média-arte digital, possuem novos meios que devem ser colocados à disposição de causas. Se pensarmos quão longe podem chegar as intervenções que recorrem à internet, encontraremos a resposta que justifica todo o trabalho que se possa ter. 4. O que a levou à criação do despertaDOR? Que sensibilidade, que conhecimento, que consciência? Eu, como a maioria das pessoas, vivi grande parte da minha vida sem a consciência do uso, exploração e violência que exercemos com os animais. Pensei que eram os outros que o faziam pois eu nunca matei, nunca espanquei nem violentei nenhum animal. E sim, fi-lo. Ao consumir, ao assistir a espectáculos, ao comprar produtos que têm animais envolvidos na sua confecção. Isto é, ninguém é isento de causar dor; ao comprar uma mala de pele estamos a pedir que se façam mais e as pessoas não sabem de que modo essas peles são obtidas; os gorros com pompom de pelo, que foram moda este inverno, têm na sua origem uma cadeia de sofrimento horrível, da qual poucos têm consciência. Se eu sei, é meu dever mostrar. 5. Leio o despertaDOR como uma proposta de renascimento da maneira como o homem percepciona os outros animais e se relaciona com eles. É possível esse renascimento? Tem sido um processo central na tua vida? 26 Essa terá sido a maior mudança que aconteceu na minha vida. O despertar para algo que sempre existiu e eu nunca tinha visto. Se isto aconteceu comigo, é possível que aconteça com os outros. O meu maior desejo é que cada vez haja mais pessoas a verem, a mudarem a sua percepção. E eu gostaria de poder contribuir com uma ínfima parte que fosse. O despertaDOR é um dos meus contributos. 6. Chocar as pessoas, magoá-las, fazê-las sofrer, será mesmo um modo de as tocar e as mudar? Sei que o despertaDOR esteve já exposto noutros lugares: a que reacções assististe? Que noção tens daquilo que, efectivamente, o despertaDOR despertou (passe a redundância) em pessoas que se confrontaram com ele? Essa é uma velha discussão e nunca saberemos qual é a resposta correcta. Alguns estão tão perto da mudança, que basta uma pequena acção para que mudem. Outros estão tão longe, tão alheados da realidade que não há coisa que os demova. Isso não faz das pessoas “más pessoas” mas essas são as que contribuem, inocentemente, para a grande chacina. Os meios violentos de revelação podem ter duas consequências: ou fazem mudar e já valeu a pena, ou provocam uma reacção profunda de repulsa que terá como resultado o desprezo e o alheamento ainda maior. Por isso, nunca saberemos de que lado está a razão, por isso, mais vale deixar-nos ser guiados pela sensatez. Neste momento penso que a maior luta é mostrar sem chocar – o que eleva o desafio.