filosofia e arte/10
existencialismo
Sozinhos temos a possibilidade de confrontarmo-nos de maneira mais íntima. Poderíamos, ainda, dizer que é sozinho que construímos nossa personalidade, sem, contudo, renegar aos outros o que lhes é devido nesse processo de construção. Vivemos uns com os outros, agimos e reagimos em uma teia de convivências, às vezes com pessoas próximas e outras com estranhos a nós. Em todo caso, temos o olhar do outro sempre presente.
Há uma peculiaridade no inferno apresentado por Sartre em sua peça "Entre quatro paredes", que reside na impossibilidade da solitude. Esta, que ao contrário da solidão, não aponta para um estado de distância do outro, como se estivéssemos sem vizinhança. No inferno da obra, estamos sob a constante presença do olhar do outro. Sem chances de apagarmos as luzes, ou de estarmos sós. O olhar do outro inunda nossa consciência sem nos dar a chance de qualquer final digno. O núcleo da reflexão é justamente o olhar do outro, na forma como se observa, isto é, como tomamos a pessoa como um objeto. Mas esse tomar como objeto não esgota a relação que se desenvolve neste caso. Há uma outra forma de encontro entre as consciências que estão condenadas ali, que se encerra no ato de ser-visto.