Explore Revista Explore | Page 11

Ao escrever “Histórias”, Heródoto tinha a missão de encontrar, organizar e transmitir aos cidadãos os acontecimentos mais importantes da nossa civilização – deixá-los registados para o futuro; Kapuściński descrevia as revoluções do século XX; os outros viajantes que partilharam os seus dias, pensamentos, publicavam fotografias ou fosse que fosse. Mas foi sempre por alguma razão social. Hoje-em-dia, como afirma Luís Gonçalves, um psicólogo e psicoterapeuta na mais recente entrevista ao Expresso, “partilhar algo sobre um acontecimento tinha-se tornado mais importante do que viver efetivamente esse acontecimento.” E identifica um problema contemporâneo - como se vê o intimo, o socialmente relevante? O que realmente dá prazer em viajar é a própria viagem, com o seu sentido romântico, em cima mencionado, ou a recepção dos outros do nosso relato? Quando todos se tornam repórteres, é preciso refletir se o famoso “tudo vale a pena” não devia ser repensado. Porque sobre a grandeza das almas em contexto das massas é desnecessário discutir.

Com o mundo em mudança, muda a viagem, o destino e, como vimos em cima, também a forma como se comunica sobre ela. Podemos dizer que, por norma, temos piores retratos, mas não deixa de ser um fato que, afinal, é o viajante a determinar onde, como e para quê se transporta e qual é motivo do seu fascínio por algo cada vez mais comum e cada vez menos estanho. Por puro prazer também pode ser um motivo fixe.

© All rights reserved - Ignacy Ciszewski