A primeira função da viagem não é sempre tão poética e profunda, mas acompanha-nos ainda hoje. Acompanha-nos numa nova situação, porque já quase não se viaja mais para o desconhecido. “Conhecemos pessoas, que vão a Marrocos de Bertolucci, à Dublin de Joyce, ao Tibete dos filmes sobre dalai lama. Existe um significativo síndroma, nomeado por Stendhal, quando se chega ao lugar conhecido da literatura ou da arte e a experiência é tão forte que acaba em síncopes e moléstias“, diz Tokarczuk, premiada com Nobel da Literatura este ano, no seu livro “Viagens”. Conhecemos também outro síndroma – síndroma de Paris -, quando a Roma não tem nada a ver com “Férias em Roma” ou “La Grande Bellezza”, Lisboa com “Lisbon Story”, Praga com o clima bruto da “Metamorfose” ou com os vídeos dos vloggers, vistos por milhões. Com as multidões de peregrinos transportados pela WizzAir ou RyanAir, com todo o respeito às possibilidades que dão, o turismo de massa tornou-se a única certeza a encontrar nas capitais culturais do mundo. A curiosidade das massas é um fato fantástico, com milhares de pessoas em voo a representarem um nova “República de Aeroportos”, mas o resultado nem sempre é tão fantástico.