A fase adulta
Contudo, apesar de na esmagadora maioria
do tempo eu estar em contato visual com os
muriquis, existiam momentos em que, mesmo
chegando cedo ao seu local de dormida, eles já
haviam se deslocado para outro lugar. Por
consequência, iniciava-se a missão de encontrar o
grupo o mais rápido possível. Essa não é uma tarefa
fácil e demanda boa dose de paciência. A floresta é
extensa, as árvores alcançam 30 metros de altura, o
relevo é íngreme e os muriquis, apesar de
seu peso e tamanho corpóreo, conseguem ser
impressionantemente silenciosos.
Nesses momentos de procura pela floresta,
eu seguia vestígios deixados pelos muriquis, como
maiores concentrações de folhas caídas no chão e
fezes por exemplo. À medida que aumentava meu
tempo imerso na floresta minhas capacidades
auditivas e olfativas se tornavam mais apuradas, o
que me trouxe uma facilidade em encontrá-los.
Aliado a isso, passei a investir energia em
identificar e selecionar alguns locais da floresta que
apresentavam maior alcance auditivo e comecei a
permanecer uma hora parado nesses pontos
tentando escutar alguma manifestação dos
muriquis. Somente após ouvi-los, eu me deslocava
em direção à origem do som. Essa estratégia,
semelhante a um predador do tipo “senta e espera”,
era mais vantajosa do que investir tempo e energia
caminhando ativamente em busca deles, uma vez
que ruídos gerados ao caminhar e até mesmo uma
respiração mais ofegante podia fazer com que
algum som emitido pelos macacos passasse
despercebido.
Embora os momentos de procura pelos os
muriquis fossem menos vantajosos do que o
monitoramento, eram nesses momentos de busca
que eu inevitavelmente olhava com mais atenção
para a floresta e pude perceber a diversidade
de vida que ali habitava. Os vales eram predominantemente escuros, preservados e com
árvores enormes como jequitibás, enquanto os topos de morro tinham vegetação
predominantemente secundária e de menor porte.
Uma variedade de cores, formas e sons faziam
parte da rotina na floresta. Isso tornava tudo mais
interessante. Uma incrível diversidade de
cogumelos, musgos e artrópodes decoravam o chão
e os troncos das árvores. Enormes abius, figueiras e
centenários jequitibás rasgavam o contínuo dossel
arbóreo transformando-se em verdadeiras
sentinelas da floresta. Aves como saíras, arirambas,
choquinhas, arapaçus, pica-paus, beija-flores,
canários, araçaris e os imponentes gaviões pato,
carijó e acauã eram observados com frequência.
Seus cantos e rumores se tornaram notórios e com o
tempo aprendi a distingui-los, além de saber em
qual região da floresta cada espécie costumava
ocorrer. Posso dizer que toda essa vivência me
permitiu perceber mudanças que ocorriam na
floresta, por mais singelas que fossem.
Fungos multicoloridos
encontrados durante os
trabalhos de campo.
Acima uma Ariramba
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