Explora Web Magazine Ano II Volume VI | Page 21

A fase adulta Contudo, apesar de na esmagadora maioria do tempo eu estar em contato visual com os muriquis, existiam momentos em que, mesmo chegando cedo ao seu local de dormida, eles já haviam se deslocado para outro lugar. Por consequência, iniciava-se a missão de encontrar o grupo o mais rápido possível. Essa não é uma tarefa fácil e demanda boa dose de paciência. A floresta é extensa, as árvores alcançam 30 metros de altura, o relevo é íngreme e os muriquis, apesar de seu peso e tamanho corpóreo, conseguem ser impressionantemente silenciosos. Nesses momentos de procura pela floresta, eu seguia vestígios deixados pelos muriquis, como maiores concentrações de folhas caídas no chão e fezes por exemplo. À medida que aumentava meu tempo imerso na floresta minhas capacidades auditivas e olfativas se tornavam mais apuradas, o que me trouxe uma facilidade em encontrá-los. Aliado a isso, passei a investir energia em identificar e selecionar alguns locais da floresta que apresentavam maior alcance auditivo e comecei a permanecer uma hora parado nesses pontos tentando escutar alguma manifestação dos muriquis. Somente após ouvi-los, eu me deslocava em direção à origem do som. Essa estratégia, semelhante a um predador do tipo “senta e espera”, era mais vantajosa do que investir tempo e energia caminhando ativamente em busca deles, uma vez que ruídos gerados ao caminhar e até mesmo uma respiração mais ofegante podia fazer com que algum som emitido pelos macacos passasse despercebido. Embora os momentos de procura pelos os muriquis fossem menos vantajosos do que o monitoramento, eram nesses momentos de busca que eu inevitavelmente olhava com mais atenção para a floresta e pude perceber a diversidade de vida que ali habitava. Os vales eram predominantemente escuros, preservados e com árvores enormes como jequitibás, enquanto os topos de morro tinham vegetação predominantemente secundária e de menor porte. Uma variedade de cores, formas e sons faziam parte da rotina na floresta. Isso tornava tudo mais interessante. Uma incrível diversidade de cogumelos, musgos e artrópodes decoravam o chão e os troncos das árvores. Enormes abius, figueiras e centenários jequitibás rasgavam o contínuo dossel arbóreo transformando-se em verdadeiras sentinelas da floresta. Aves como saíras, arirambas, choquinhas, arapaçus, pica-paus, beija-flores, canários, araçaris e os imponentes gaviões pato, carijó e acauã eram observados com frequência. Seus cantos e rumores se tornaram notórios e com o tempo aprendi a distingui-los, além de saber em qual região da floresta cada espécie costumava ocorrer. Posso dizer que toda essa vivência me permitiu perceber mudanças que ocorriam na floresta, por mais singelas que fossem. Fungos multicoloridos encontrados durante os trabalhos de campo. Acima uma Ariramba E x p l o r a W e b M a g a z i n e 21