Explora Web Magazine Ano II Volume V | Page 9

100 anos depois de Wallace Páginas Verdes por João Paulo Krajewski W allacea, Linha de Wallace, Wallace's standardwing. Poucas pessoas, surpreendentemente, conhecem estes nomes e sabem que eles homenageiam um dos maiores naturalistas do mundo e que é um dos autores da idéia de evolução por seleção natural, ao lado de Darwin (este sim, todo mundo conhece): Alfred Russel Wallace. Este ano é centenário de morte de Wallace, e com as celebrações de sua obra, há uma oportunidade para finalmente coloca-lo em seu devido posto. Escrever sobre Wallace em uma página, especialmente para alguém que, além de conhecer e admirar a obra dele, vive num país onde Wallace fez grande parte do seu trabalho e é apaixonado por outros países onde ele passou 8 anos trabalhando, é muito difícil. Para mim, este texto é quase como uma resenha de orelha de livro, que instiga os leitores a adentrarem a obra e usufruí-la adequadamente. Wallace nasceu no País de Gales, em 8 de janeiro de 1823, e sempre foi muito humilde. Com pouco poder aquisitivo, foi obrigado a trabalhar desde cedo e, diferente de Darwin, não frequentou universidades ou o mundo acadêmico no começo de sua carreira. Apaixonado por história natural e aventureiro ávido e determinado, Wallace conseguiu realizar o sonho de viajar a florestas remotas trabalhando como coletor de animais. Ganhava dinheiro vendendo as amostras que coletava a museus e pessoas curiosas ricas e extravagantes, que gostavam de ter em casa as relíquias de um mundo ainda pouco conhecido pelos europeus. Wallace passou quatro anos no Brasil e esteve no interior da Amazônia, onde pouquíssimos europeus haviam se aventurado. Em sua viagem, Wallace já mostrava algo diferente de todos os naturalistas até então: a minuciosidade ao anotar os detalhes dos locais de suas coletas. Para cada animal coletado, fosse um macaco ou um inseto, havia o registro do lado da margem do rio onde foi pego, entre outros detalhes. Com ele, começou a Biogeografia, parte da ciência que estuda a distribuição dos animais, o que foi fundamental para que ele desenvolvesse a idéia sobre evolução das espécies. Após anos no Brasil, Wallace ficou admirado com a diversidade das florestas, apesar de todas as mazelas de visitar um lugar selvagem onde reinava a malária. Mas o pior ainda estava por vir. Em sua viagem de volta a Londres, seu barco, com todos os animais que havia coletado e todos seus registros, pegou fogo. Perdeu quase tudo que tinha consigo e ficou dias à deriva no Atlântico. Com a pele rachada de sol e sal e com fome, em meio a navegadores desesperados e esperando a morte, Wallace passava as horas anotando e identificando as aves que sobrevoavam o barco. Resgatado por sorte, voltou mais do que exausto à Inglaterra, e jurou que não viajaria mais para lugares selvagens assim. Mas sua determinação fez a promessa durar pouco. Em 1854, Wallace partiu para o arquipélago malaio, nas ilhas que hoje formam a Indonésia, Malásia e Singapura. Foi nesse labirinto de cerca de 17 mil ilhas, e com histórias geológicas e evolutivas diferentes, que Wallace fez sua maior obra. Viajou incansavelmente por essa região durante 8 anos, indo e vindo, morando em florestas repletas de lodo, sanguessugas, malária e tribos canibais. Coletou plantas, besouros, borboletas, aves, macacos... Mais de 15 mil animais, que mandava regularmente para a Europa, assim como cartas e publicações científicas. As anotações sobre as coletas feitas no arquipélago continuavam ricamente detalhadas para cada animal, Explora Web Magazine 9