Explora Web Magazine Ano II Volume IV | Page 20

tendo saudade de fazer o número dois e ver os peixes“ sumirem” com tudo. Porém, hoje, quando sinto aquela vontade de fazer um xixi de madrugada, fico feliz de saber que o banheiro encontra-se ao lado e não caminho 10 minutos para fazer no mar. Mas isso tudo é tão pequeno perto de todas as outras coisas boas que só o Atol proporciona a você.
Além de respeitar o ritmo da maré, sem dúvida um grande ensinamento, aprendemos como é importante saber conviver num coletivo. Afinal de contas, éramos somente cinco pessoas durante todo período e ficamos o tempo todo juntas. Foi muito legal sentir o espírito de equipe que se criou. Todos precisavam estar bem para que o grupo permanecer tranquilo, e todos se ajudavam para que este clima ocorresse. Fizemos amigos para o resto da vida.
Hoje estou de volta à vida no continente e aos afazeres de doutoranda, muito diferente de como fui para a expedição. Até reduzi o tempo assistindo televisão, coisa que sempre amei e não
tinha por lá. Prefiro fechar os olhos e rememorizar a vida no Atol das Rocas: a tela era a janela do alojamento onde podíamos ver milhares de aves com seus ninhos e filhotes. Trinta-réis, viuvinhas e atobás juntamente com o seu barulho. Durante 24 horas por dia elas nos proporcionavam a o b s e r v a ç ã o d e m o m e n t o s i n c r í v e i s d e comportamento animal. Brigas, namoros, cuidados com os filhotes que tanto me encantavam e me faziam perder horas observando-os. De volta à vida sinto falta de tudo, da simplicidade, do barulho das aves, da cor do mar, da companhia das pessoas, de ver tubarões, de ver o nascer e por do sol no mar. Sinto-me extremamente privilegiada por ter tido a oportunidade de conhecer o Atol, e sobretudo de conhecer pessoas que movem o mundo para cuidálo. Hoje tenho certeza de que a minha experiência de vida e de bióloga ganhou forças graças à luta incansável da Zelinha e de outros tantos que a acompanham, que fez da preservação a razão de sua vida. Eis a maior lição que aprendi.
Da esquerda para direita, Ana Luisa Moreira, Anaide W. Aued, Jarian Dantas,
Liana Mendes e Ana Liedke
Anaide W. Aued é bióloga formada pela Universidade Federal de Santa Maria e doutoranda em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 20