Ewe O conto das Folhas Sagradas Livro Ewe o conto das folhas | Page 21

Fernanda Amaru Jovem adulta, moradora da zona leste de São Paulo, é historiadora e militante de movimentos sociais nas di- versas causas de jovens, mulheres e população negra. É mãe do “rebelde” e intenso Thairu, filha de Dona Alair, agora nossa ancestral, ao qual prestamos nossas homenagens em gratidão pela presença e soma de boas energias na abertura desde projeto, na crença das heranças ancestrais e continuidade hereditária. Entre muitas atividades, coordena um grupo de arte educadores sociais no projeto Arte na Casa, da Ação Educativa, que tem como objetivo promover uma intervenção no sistema de atendimento socioeducativo por meio de atividades de arte e cultura em 20 unidades da Fundação Casa (antiga Febem) atuando junto a 1.200 adolescentes que cumprem medida socioeducativa em regime de internação. A criminalização da pobreza e as construções sociais Recebi o convite para ir falar sobre Encarcera- mento de Jovens e Redução da Maioridade Penal e fiquei duplamente feliz, primeiro por falar de um assunto que me é tão caro e segundo por ser num lugar onde se prega a vida. O convite me veio através de uma amiga que sabe tanto quanto eu como é importante levarmos a discussão sobre o Projeto de Redução a diversos cantos e nos de- bruçar num discurso de convencimento das pessoas em se tornar contrária a esta política de morte de jovens. Iniciei minha fala trazendo um panorama histórico das políticas e leis direcionadas a população negra desde a Abolição da Escravatura em 1888. Por que fiz um recorte desta população? Porque ela até hoje é a mais atingida pelas políticas de encarceramento e genocídio. Já é mais que sabido que a criminalização no Brasil tem cor, classe e gênero. E que a população historicamente criminalizada, perseguida e penalizada é a população po- bre e negra. Percebemos hoje um momento de retrocesso históri- co frente a qualquer política progressista que um pais ex colonizado como o Brasil foi capaz de alcançar. Temos uma burguesia conservadora e retrógrada que a todo o momento tenta barrar ou rever os pequenos avanços políticos que os movimentos sociais conseguiram atingir. Hoje o que temos é o enfraquecimento ou a destruição dos movimentos pela máquina governamental. Diante disto, desde meados dos anos 2000 vemos os movimentos degringolar e se ren- der a meros programas de reformas políticas. Não foram somente frustrações, muitos avanços tiveram como tenta- tiva de minimizar a gigantesca desigualdade num país que nem sequer condenou os bandidos da ditadura. Os “bandidos” que são condenados, quando há jul- gamentos pelo nosso sistema de (in)justiça são os des cendentes da população que foi sequestrada de sua terra e trazidos/as para cá para serem escravizados. Foi esta população que há todo o momento lutou contra a desigual- dade e por sua liberdade. Desde a colonização a popula- ção de africanos que para cá vieram lutaram e se orga- nizaram para mudar a ordem vigente, sendo em quilombos, insurreições ou revoltas. No decorrer da explanação percebi que o público estava bem interessado, afinal de contas História sempre representa uma recordação, uma descoberta, ou a certeza de que nada no mundo acontece sem um fato que o procede. Continuei então minha caminhada ao “convencimento”. A segunda parte se baseou em dados para podermos discutir o Encarceramento de Jovens, utilizei como uma das fontes o Mapa do encarceramento: os jovens no Brasil de 2014. Que segundo a pesquisa nosso querido país é o 4º em população carcerária no mundo e o 1º na América La- tina, ficando atrás do nosso grande mestre em habilidades policiais, Tio Sam. As prisões brasileiras são famosas no mundo inteiro pelo terror, torturas, maus tratos e superlotação onde brutais violações dos Direitos Humanos 21 dos presos e de seus familiares acontecem.