Entrecontos Agosto/18 - Número 001 entrecontos agosto 2018 numero 1 | Page 9

É POSSÍVEL ADQUIRIR O GOSTO PELA LEITURA? por Adriano Villa ada melhor do que responder essa pergunta com uma pequena história que aconteceu comigo há alguns anos, quando era criança pequena lá na Vila Nova Cachoeirinha e estudava no colégio Helios Heber Lino. Estava no primeiro colegial e entre meus professores havia um de História que era um cara muito descolado e sempre pronto para ins gar os alunos a pensarem por si. Seu nome não me recordo, apenas do apelido, Tico. Como dava aula para todas as classes no período noturno, o professor Tico acabou se tornando uma ponte entre eu, no primeiro colegial e o Messias Neves no terceiro, ambos escrevíamos poemas entre outros textos. O Messias era o irmão mais velho de um amigo que era membro de nosso bando na adolescência. E, como os irmãos mais velhos sempre contam com a admiração dos mais novos, era comum ser mencionado como escritor, leitor e um cara cheio de cultura, algo que não nhamos tanto conhecimento naquela época. Quando se anda há muito tempo com um grupo de pessoas, é normal conhecer a todos e da mesma forma que sabíamos do Messias, ele também sabia de cada um dos amigos do irmão. Por isso, quando ingressei no Helios, escolha próxima de nossas casas, não foi muito di cil estreitar a amizade com o irmão de meu amigo. E foi em um desses encontros na escola que rolou o convite para um evento que não esqueço até hoje. O professor Tico e o Messias, as sextas-feiras cur am sair da escola e parar em um barzinho nas N redondezas do Jardim Tietê para tomar umas cervejas e escrever poesias. Como também escrevia, me chamaram para par cipar. Ao chegarmos lá, sentamos, pedimos algumas cervejas e começamos a escrever poesias. Havia um esquema na criação dos poemas, cada um dizia uma determinada palavra e começávamos a escrever sobre o assunto. Era cada coisa que saia... Foram diversas sextas-feiras, vale destacar que não cabulávamos. Saímos na úl ma aula e se por ventura alguém saia mais cedo, esperava o resto da galera para aquele momento único e prazeroso. Em uma dessas ocasiões as coisas não pareciam propícias para a criação de palavras rimadas e como todos estavam ali, começamos a falar sobre os livros que estávamos lendo. Não vou lembrar quem co m e ço u o a s s u nto, m a s recordo do Messias contando sobre o livro que lera e os demais comentando e incrementando ainda mais os comentários. E eu estava ali ao lado apenas ouvindo a conversa com atenção e achando tudo aquilo muito “culto” da parte de meus amigos. Assim que o Messias terminou, o professor Tico iniciou. Os comentários rolaram e eu con nuava ouvindo e olhando atentamente para todos. Para mim aquilo era algo de outro mundo, afinal de contas, não gostava de ler. Para você ter uma ideia, certa vez rei zero em um trabalho que nha que ler e resumir um livro. No dia do trabalho, imaginando que a professora não se tocaria, entreguei a cópia do que li na orelha do livro. Foi zero na cabeça e 09