Ensaio sobre um crime 1º Volume | Page 24

A carta

“Obrigada por prometer não revelar nosso segredo para o mundo. Hoje você me julga, mas se estivesse em meu lugar, sofrido o que sofri, tomaria as mesmas decisões que tomei. O ser humano faz o que for preciso para mais um dia de vida.

Logo após a revolta, os estupros se tornaram rotineiros. Estávamos cansadas de vivermos a espera do pior. Nos unimos e fabricamos nossas próprias armas. Treinávamos todos os dias e organizamos um plano para matar todos os saqueadores. Nosso alvo principal era José Miguel, ele estava incomodado com nossa mudança de comportamento e sempre mandava homens ao II Comando para nos atacar. Planejamos durante meses e quando eles, bêbados, chegavam na aldeia, nos juntávamos e matávamos cada um deles. Todos os corpos foram enterrados na caverna, eles dividem o cemitério com os corpos de nossos filhos homens. A revolta nos mostrou que todo homem é um estuprador em potencial, mesmo nossos filhos. As crianças não sofreram, foram envenenadas.

Eu também fui violentada pelos saqueadores, eles não nos deixariam viver, algo precisava ser feito. Abrigamos as mães que se esconderam nas montanhas, elas estavam completamente assustadas e não queriam que suas filhas fossem maltratadas por homens tão perversos. Eu sei que fizemos é crime mas ninguém aí fora se importa com o Povoado Y. Por anos passamos fome e ninguém nos ajudou. O presidente calculou que viveríamos por mais cinco anos, hoje, completamos dez de fundação. Tudo isso era preciso, vivemos numa escuridão constante, assim como afirma Hobbes, o homem é lobo do homem.”

Um grande abraços, Helena.

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Gabriela telésforo

[capítulo 10]

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