Em Ordem março de 2017 | Page 8

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ENTREVISTA

Porque se discutir, ainda hoje, sobre o recorte de gênero no exercício da advocacia?

Talvez o mais acertado fosse questionar o porquê de somente nos dias atuais se discutir esse recorte na advocacia ou o porquê de essa discussão ter tomado fôlego apenas nos últimos anos. A Ordem dos Advogados do Brasil foi fundada há 87 anos e até hoje nunca tivemos uma mulher no mais alto posto da advocacia brasileira; dos 35 presidentes da sua história, a Ordem nunca elegeu uma mulher. Atualmente, das 27 Seccionais, apenas uma é gerida por mulher, que é o Estado de Alagoas. Essa é, para mim, a importância sob o viés classista. Sob o aspecto do dia a dia forense, penso que apesar da aparente igualdade entre o homem e a mulher no exercício da advocacia, ainda subsistem práticas estereotipadas que marcam a advogada e a desprestigiam. Por exemplo, é comum a “piada” de que a advogada deve caprichar no decote quando vai despachar com o juiz, ou, que a advogada é “mulherzinha” demais para assuntos de disputa mais acirrada e por isso deve ser “preservada” para as matérias mais “pacificadoras”, como de Direito de Família, na qual a capacidade conciliatória é um fator relevante. Não que essa capacidade seja ruim, pelo contrário, mas é que essa visão limita

nossos horizontes. No imaginário popular a figura do advogado, no masculino mesmo, é marcada pelo enfrentamento, pelo destemor e essas, convenhamos, não são qualidades que se atribuem popularmente às mulheres. É para que não exista limitação de horizontes de atuação jurídica-processual que esse debate deve ser feito.

Qual é a estratégia da Comissão para envolver também os homens nas temáticas de gênero?

A Comissão da Mulher Advogada da OAB-TO trabalha em parceria e harmonia com todas as demais comissões da Ordem. Mas faz questão de evidenciar o protagonismo feminino. Não por uma disputa interna, não é isso, mas para demarcar um local que pode ser exercido pela mulher, para ficar muito evidente que nossa bandeira é pela ampliação dos horizontes e dos espaços. Então, nessa perspectiva, a Comissão busca estar ombreada pelos nossos colegas advogados, nas palestras, nas conferências, nas formações, nas atuações processuais. É assim, lado a lado, dialogando e também brigando quando necessário, que nós pretendemos envolver os homens.

Como você entende o envolvimento masculino pela equidade?

Particularmente penso como imprescindível. Nessa luta não queremos estar sozinhas nas trincheiras, mas também não queremos estar

GÊNERO e PRERROGATIVAS!

Os desafios das advogadas nos diversos ambientes profissionais e explica como o machismo afeta a atividade profissional forense.

Emilleny Lázaro

Vice presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil no Tocantins é advogada especialista em Direito Civil e Processual Civil, pela Faculdade Católica do Tocantins, graduada em Direito pelo Centro Universitário Luterano de Palmas.