Educação - Extinção de Escolas Rurais, em Goiás Educação - Escolas Rurais em Extinção | Page 4

16 / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 16 de setembro de 2018 Mães assumem escola rural EDUCAÇÃO Para evitar o sacrifício dos filhos de ter que ficar horas no transporte até a cidade, mulheres decidem executar funções em unidade escolar, única que ainda funciona em Hidrolândia Diomício Gomes Galtiery Rodrigues [email protected] A única escola rural que ain- da funciona em Hidrolândia, município a 35 quilômetros de Goiânia, é gerida por duas mu- lheres, mães de duas das crian- ças que estudam no local e que se desdobram para executar to- das as funções. Uma, Lucimar de Souza, de 34 anos, atua como professora e a outra, Márcia de Araújo, 54, é quem faz a meren- da e cuida da limpeza. “A minha vida é essa. Se tiver que traba- lhar o dia inteiro aqui para a mi- nha filha estudar e não ficar ho- ras no ônibus para chegar na ci- dade,eu trabalho”,diz Márcia. Várias já foram as tentativas e ameaças de fechamento da unidade.A escola,quese chama Escola Municipal Terêncio Ber- nardes, fica a 18 quilômetros do Centro da cidade e os pais das crianças reivindicam o funcio- namento para evitar o desloca- mento dos filhos pequenos. Lu- cimar, quemora numa proprie- dadeaquatroquilômetrosdaes- cola, foi alfabetizada no local, quandoairmãdelaeraprofesso- ra.Elaé concursada daprefeitu- Lucimar Cândida de Souza, na escola em que foi alfabetizada e hoje ensina a filha e mais três crianças ra como agente de saúde, gra- duou-se em Pedagogia e traba- lhana unidade há cinco anos. “Na minha época, eram 35 alunos. Depois, os pais foram preferindo mandar os filhos pa- ra a cidade”, relata. Hoje, são apenasquatrocriançasmatricu- ladas, mas no início do ano eramoito.Onúmerooscila,por- que é condicionado às mudan- ças constantes das famílias dos caseiros que trabalham nas fa- zendas. Além disso, existe, cla- ro, o incentivo diferenciado pa- ra as escolas da cidade. “Aqui, é porqueospaisnãoqueremmes- momandarosfilhos paraacida- de, porque não tem nada na es- cola. Não tem um parquinho, não tem uma cerca direito. Eles pintarampor fora, masnão pin- taram por dentro. Mandaram umatelevisão,masnãotemosu- porte para colocá-la. Eu vou re- sistindo,porquetenhoesperan- çademelhora”,diz Lucimar. O filho dela, de quatro anos, setivessequeir paraacidadees- tudar de manhã, teria de acor- dar às 4 horas. A filha de Márcia, que hoje tem oito anos, chegou a estudar na zona urbana, mas, além de chegar à noite em casa, porvolta das20 horas, começou apassarmalcomodeslocamen- to diário. A garota, Marcela Bar- bosa Resende, saía de casa às 10h30. A chácara da família fica a mais de 20 quilômetros da ci- dade e a nove da escolinha ru- ral.Márciadecidiu,então,man- tê-la mais perto de casa. E é ela quem passou a se responsabili- zar pelo transporte da filha. No início, antesde começara traba- lhar como merendeira, Márcia nemretornavaparacasa. Elaes- perava a aula terminar para fa- zer o trajeto de volta, pois era mais vantajoso, diante da dis- tânciapercorrida.