O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou em outubro as notas por escolas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para a escola ser incluída na divulgação, é necessário que pelo menos 50% de seus alunos do 3º ano do Ensino Médio tenham realizado a prova.
Os dados são divulgados anualmente pelo governo e alimentam a discussão sobre a qualidade da educação brasileira, principalmente no ensino médio público, que vem causando dores de cabeça há muito tempo.
A relação de notas divulgadas pelo Inep no dia 04 de outubro indicou que das 100 maiores médias das provas objetivas, 97 são de escolas particulares e 3 de federais. Entretanto, a listagem foi criticada por alunos, professores e especialistas já que 96% dos institutos federais não foram incluídos. O governo reconheceu o equívoco, divulgando no dia 31 do mesmo mês a nota de outras 961 escolas.
Desse modo, o “ranking” foi alterado. O número de colégios federais entre as mil notas mais altas saltou de 30 para 65, é o que informa o G1, baseado nos dados fornecidos pelo Ministério da Educação através do Inep. O número de escolas técnicas entre as mil também aumentou, de 9 para 17. Ainda assim, a rede privada, representada por 908 escolas, predomina na lista.
O presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) falou ao G1 sobre a importância de levar em consideração os diferentes contextos em que essas escolas estão inseridas. “O ‘ranking’ do Enem simplesmente consagra as escolas que fazem seleção de seus alunos. Entre as melhores classificadas, um primeiro fato a considerar é que as privadas selecionam primeiro seus alunos pela renda e também pelo desempenho em provas. Esta seleção é frequentemente feita ao longo dos anos, convidando os estudantes mais fracos a saírem. As escolas públicas que estão nas melhores colocações são aquelas que admitem seus alunos através de difíceis vestibulares” afirmou o presidente.
Na cidade potiguar Mossoró, a cerca de 280 quilômetros da capital Natal, o resultado também preocupa, das 15 maiores médias, 12 são de escolas privadas.
A média aritmética dos dados disponibilizados pelo Inep indica que em 2015 as escolas de Ensino Médio públicas de Mossoró tiveram cerca de 492 pontos, 15,5 a mais que em 2014. Apesar do leve crescimento, a média da rede pública está a 54,5 pontos atrás das escolas privadas. Ainda assim, essa distância diminuiu em relação à 2014, que era de 60,5 pontos. Os números indicam que a média das escolas estaduais e federal aumentou, mas, nessa estrada, a rede privada ainda faz a pública comer poeira.
É consenso entre especialistas que o Enem não determina qual escola possui qualidade ou não, mas a partir dos números é possível perceber que o ensino médio público ainda encontra obstáculos para chegar ao topo do pódio. E meio à tantos números fica o questionamento: Quais os desafios da educação pública para chegar à padrões satisfatórios?
Nossa equipe fez essa pergunta à professora Sara, que leciona língua portuguesa na Escola Estadual Aida Ramalho Cortez Pereira, instituição com a pior nota média na redação do Enem 2015 entre as escolas mossoroenses: 471,8. Sara destacou a relevância da valorização dos professores e demais funcionários das escolas e a carência de verbas públicas na educação. A professora usou como exemplo o Sarau Literário promovido pela instituição e custeado pela mobilização dos alunos para conseguir recursos e, assim, conseguir promover o evento. Sara destacou que a Aida Ramalho tem a vontade dos funcionários em fazer a diferença como maior qualidade, porém, a escola carece de estrutura adequada e materiais, como folha de ofício.
O estado em que a escola se encontra incomoda professores e alunos. José, aluno do 2º ano, pontua a insegurança e a precariedade de objetos da escola como os maiores problemas desta. As reclamações se repetem na boca dos alunos. No início de novembro a instituição foi ocupada por estudantes em protesto contra a PEC 241 e a Reforma do Ensino Médio, a ocupação durou 11 dias.
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Reportagem