Opinião
6 A Voz dos Reformados | Novembro / Dezembro 2023
Opinião
Doenças do fígado
Margarida Lage
Médica
Com muita frequência são referidas expressões de pessoas « que não comem determinado alimento com medo de fazer mal ao fígado » ou afirmam « que qualquer medicamento faz mal ao fígado ». Para melhor esclarecer as pessoas sobre este assunto , procuramos dar uma informação concreta e elucidativa com a leitura deste texto , sabendo que a decisão final depende do exame clínico feito pelo seu médico assistente . As mais frequentes doenças do fígado são as hepatites , esteatose hepática e a doença hepática alcoólica . Hepatites : Podem ser de causa vírica ou medicamentosa . A hepatite A decorre de forma aguda , geralmente com febre , astenia , com ou sem icterícia ( pele e mucosas amareladas ). Diagnostica-se por análises , as denominadas provas hepáticas e decorre em geral num período de dois a três meses . Não necessita em geral de tratamento nem internamento . A transmissão é habitualmente por contaminação de água não potável ou alimentos crus mal lavados . Não evolui para hepatite crónica , pelo que , apesar de haver vacina , esta não é obrigatória . As hepatites B e C têm comportamentos semelhantes . São transmitidas através de contactos sexuais ou sangue de doentes infetados . Decorrem com uma fase aguda , seguindo-se doença crónica que pode ser assintomática e levar anos a dar sintomas . Não sendo tratadas podem evoluir para cirrose hepática . Nos exames de rotina pedidos periodicamente pelos médicos de família estão incluídas as provas hepáticas desde 2015 – em Portugal o tratamento destas hepatites é fácil e acessível . Para a Hepatite B há vacina e é
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FARPIE / MURPI NO DISTRITO DE ÉVORA R DE MACHEDE 53 • 7000-864 ÉVORA dada no primeiro dia de vida da criança . As hepatites medicamentosas são relativamente frequentes : por isso não convém auto-medicar-se . Se , por alguma patologia , tiver que tomar medicamentos hepatotóxicos o seu médico pedirá análises periodicamente e estará atento a qualquer efeito secundário à medicação . Fígado gordo : também conhecido por esteatose hepática . Significa acumulação de gordura nas células do fígado . Atinge cerca de 15 por cento de adultos em Portugal . Esta acumulação resulta da sua ingestão em excesso . Pode ser uma situação simples ou complicar-se e ir até cirrose hepática . Os sintomas são em geral escassos e surgem numa fase avançada da doença : náuseas , vómitos , icterícia , ascite ( líquido na cavidade abdominal ). O diagnostico é feito por análises e ecografia abdominal . Não existe nenhum tratamento específico nem medicamentos eficazes . A alteração de hábitos é fundamental : diminuir ingestão de gorduras e álcool , diminuir o peso , fazer exercício . É necessário também controlar doenças coexistentes : diabetes e dislipidemias ( gorduras no sangue ). Vale a pena esse esforço dado
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FARPIS / MURPI NO DIST . DE SETÚBAL AV 25 DE ABRIL - EDF MONTE SIÃO TORRE DA MARINHA • 2840-443 SEIXAL que , nas suas fases iniciais , o fígado gordo é reversível . A doença hepática alcoólica é um grave problema de saúde em Portugal . Pode ser assintomática durante muito tempo . Contudo , a evolução para quadros clínicos mais graves , nomeadamente cirrose e / ou hepatite alcoólica , que se desenvolvem em cerca de 15 a 20 por cento dos bebedores excessivos , pode levar ao aparecimento de sintomas debilitantes como : icterícia ( pele e olhos amarelos ), ascite ( acumulação de água no abdómen ) ou encefalopatia hepática ( confusão mental ). Outra complicação frequente da cirrose alcoólica é o cancro do fígado ( carcinoma hepatocelular ), com uma incidência que varia entre 7 a 16 por cento após cinco anos , e 29 por cento após 10 anos de doença . Por isso vale a pena em todas as idades ser moderado no consumo de álcool e ter sempre em conta que as bebidas mais alcoólicas , como as destiladas , são mais lesivas que o vinho de mesa ou a cerveja .
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Refluxo gastroesofágico
José Miguel Carvalho
Médico
O conteúdo do estômago é ácido e isso é essencial para o desenrolar da digestão dos alimentos . A situação de refluxo desse líquido para o esófago acontece quando se vomita , mas , mesmo fora desses eventos raros e muito desagradáveis , o refluxo de pequenas quantidades acontece frequentemente , podendo dar sintomas ou passar despercebido . Entre o esófago e o estômago há um esfíncter ( anel muscular ) que limita este refluxo ; em situações em que esse anel está enfraquecido , ou quando há uma hérnia dessa zona ( hérnia do hiato ), o refluxo torna- -se mais fácil de acontecer e pode provocar sintomas . Essa acidez que vai para o esófago provoca azia e sensação de ardor retroesternal ( pirose ); podem surgir regurgitações ( vinda de conteúdo alimentar á garganta ) e sensação de enfartamento após as refeições . Este refluxo provoca irritação na garganta e pode ser aspirado para a traqueia e brônquios , sendo uma das
causas frequentes de tosse irritativa . De facto , em muitos casos , os sintomas digestivos são ligeiros e os acessos de tosse são intensos ; pode mesmo surgir sensação de sufoco , aflitivo , com respiração ruidosa – e que alivia espontaneamente ao fim de algum tempo . Estas situações , com sintomas respiratórios mais acentuados , tendem a acontecer mais de noite , quando o doente está deitado – e o refluxo acontece mais facilmente . Tudo isto são sintomas a serem avaliados e contextualizados pelo médico assistente ; para além dos sintomas , o exame ao estômago ( endoscopia ) pode ajudar a clarificar o quadro . A medicação existe ( não só para reduzir o excesso de acidez , mas também para facilitar o esvaziamento gástrico ), e é parcialmente eficaz para alívio dos sintomas ; os cuidados alimentares ajudam – não encher muito o estômago ( refeições pequenas ); não se ir deitar logo a seguir às refeições ; evitar chocolate e café , bem como alimentos que o doente note que lhe agravam os sintomas . Ter a cabeceira da cama um pouco elevada também facilita um melhor esvaziamento gástrico e o menor risco de refluxo . A hérnias do hiato esofágico são bastante frequentes , e aumentando com a idade , mas de um modo geral são de pequena dimensão ; quando dão sintomas , o tratamento é o referido acima ; só em situações ( raras ) de grandes herniações é que a cirurgia pode estar indicada . Falamos do estômago nesta crónica pneumológica , mas como diria o outro : « Isto anda tudo ligado !».