Edição 565 Janeiro 2018 | Page 20

E n g e n h a r i a Operações de descimbramento de estruturas metálicas de grande porte Daniel Lepikson Oliveira* Montagem da cobertura da Arena Corinthians, em São Paulo (SP) A remoção dos apoios provisórios de construção durante a fase de montagem de estruturas metálicas de grande porte − uma operação referida no meio técnico como descimbra- mento, representa sem dúvida alguma um grande desafio para o engenheiro responsável pela operação. Tal comentário não está relacionado apenas à complexidade envolvida no processo de montagem propriamente dito (durante o qual há inúmeros outros desafios), mas também aos riscos inerentes à operação, tendo-se em conta as consequências de uma eventual falha. Trata-se de uma etapa recorrente a ser enfrentada du- rante o processo de montagem de uma estrutura metálica, que ocorre tipicamente através da união de segmentos me- nores, temporariamente suportados por apoios provisórios. Estes segmentos (ou módulos) são pré-montados ao nível do solo e posteriormente içados, posicionados nos apoios de construção na cota de projeto (com as devidas contra-fle- chas) e finalmente conectados entre si, até que o processo de montagem se complete e a estrutura se torne um elemento auto-portante (ainda que esta esteja parcialmente monta- da). Uma vez atingido este estágio, os apoios provisórios de construção tornam-se desnecessários e devem ser removi- dos. A operação de remoção destes apoios, ou o descimbra- mento da estrutura, é o tema a ser tratado neste artigo. No Brasil, esta metodologia construtiva foi largamente empregada na montagem de estruturas metálicas de gran- 20 | | J a n e i r o 2018 des proporções, projetadas para sustentar a cobertura dos estádios construídos para sediar a Copa do Mundo de 2014, visando-se a adequação das instalações às exigências da FIFA. Um destes estádios está ilustrado na Arena Corinthians, em São Paulo, projetado pelo escritório alemão Werner So- bek e construído pela construtora Odebrecht. Destacam-se na imagem as torres metálicas, utilizadas como apoios provisórios de montagem. Note-se que a estrutura metá- lica já está totalmente montada, pronta para ser descimbrada. Mas quais seriam exatamente os riscos envolvidos em um processo de montagem dessa natureza? O mais importante deles – o que determina a variável de controle a ser monitorada durante a operação – está na pos- sibilidade de ocorrer uma distribuição de cargas não prevista entre os suportes provisórios durante o processo de liberação da estrutura dos seus apoios de montagem (tipicamente um sistema hiperestático, em virtude da quantidade de apoios provisórios empregados), de modo que resultem reações maiores do que a capacidade das torres, levando eventual- mente a uma condição de insegurança do sistema estrutural. Isto pode danificar a estrutura em processo de montagem ou até mesmo levar a uma falha em cadeia dos apoios provisó- rios, com consequências potencialmente catastróficas. Salienta-se que a fase de montagem deve ser devida- mente verificada para garantir a segurança da operação, posto que neste estágio provisório, com a estrutura apoiada nas torres temporárias e submetida somente ao peso pró- prio, esta é solicitada por um conjunto de esforços muito diferentes daqueles correspondentes à configuração final. Trata-se, pois, de dois sistemas estruturais distintos. A esta altura, já é possível identificar que: • A variável de controle básica natural de um processo de descimbramento é a intensidade das reações nos apoios pro- visórios, as quais são normalmente medidas / impostas por meio de macacos hidráulicos, sendo estes dispositivos ne- cessários para o controle dos deslocamentos descendentes progressivamente impostos na estrutura a descimbrar • Os deslocamentos da estrutura a ser descimbrada, medidos a posteriori após cada passo do processo em pontos especí- ficos, representam por sua vez uma variável secundária do