o bumbo de uma banda marcial (coisa bem do passado),
tivessem que tocar violino em uma orquestra filarmônica.
Quanto antes deixarem seus postos, tanto melhor - inclusive
para eles próprios.
Durante e depois da maior luta travada por essa geração,
será necessário reconstruir a ideia de Estado, que nunca
se confundiu com “governos de plantão”. Como inspiração
histórica, lembremo-nos do New Deal, conduzido por
Roosevelt nos Estados Unidos pós-crise de 29 ou ainda do
próprio Plano Marshall, implementado na Europa do pósguerra.
É lógico, as concepções Keynesianas que alumiaram
tais planos precisam ser devidamente atualizadas para
o multifacetado e globalizado Século XXI.
No plano interno, o gasto público aumentará enormemente,
de um lado, enquanto a arrecadação fiscal cairá até
mais drasticamente. Não bastam, pois, medidas pontuais
até aqui adotadas (postergação de prazo para o recolhimento
de tributos, linhas de crédito que sequer chegam
a quem delas precisam, saques emergenciais no FGTS,
pagamento de uma determinada quantia aos trabalhadores
informais, entre outras), ou ainda, fazer uma Emenda
Constitucional que tem o sonegado objetivo de possibilitar
ao Banco Central comprar duvidosas carteiras de títulos
detidas por bancos e corretoras privadas (PEC da Guerra).
Com todo respeito aos outrora tocadores de bumbo (eu inclusive),
tocar violino é muito mais complexo e desafiador
e exige que os protagonistas não estejam comprometidos,
visceralmente, com os fabricantes de tal tambor.
A intervenção estatal sem precedentes requer a elaboração
de um grande e complexo plano, que passa por uma
reestruturação do setor financeiro, com vistas - entre outras
- a garantir uma efetiva concorrência e fazer com que
o País deixe de ocupar a indesejável posição de “campeão
de juros”, para irrigar e estimular a lenta e gradual retomada
dos investimentos produtivos. No campo fiscal, será
necessária uma reforma tributária imediata e profunda que
desonere o setor produtivo, reduza drasticamente a regressividade
do sistema e tribute, de fato, aos que capacidade
econômica têm e que, ao longo da história, nunca foram
incomodados pelo “leão”. Não será mais possível que - sem
enormes riscos - permaneçamos sendo o modelo mundial
de uma tributação injusta, que prima pela iniquidade e pela
extrema complexidade, como tantas vezes já fora denunciado.
Será necessário, também, a criação de um programa
de renda universal para todos aqueles que já não conseguem
e, certamente, não conseguirão prover seu próprio
sustento a curto e médio prazo (eram mais de 50 milhões
antes da pandemia que viviam abaixo da linha de pobreza
definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) - 5 dólares
dia). Mais uma vez, se não forem por razões humanitárias,
que sejam apenas por razões econômicas; pois, se sabe
o potencial de retorno que cada real possui quando direcionado
para pessoas de baixa renda. Enfim, como afirma estudo
recente do insuspeito Fundo Monetário Internacional
(FMI) “políticas fiscais, monetárias e financeiras de grande
envergadura e bem direcionadas tomadas na hora certa
pelas autoridades de muitos países - na forma de garantias
de crédito, linhas de liquidez, flexibilização dos prazos dos
empréstimos, ampliação do seguro-desemprego, reforço
dos benefícios e desonerações fiscais - têm sido a salvação
de famílias e empresas” (Gita Gopinath - Conselheira Econômica
e Diretora do Departamento de Estudos do Fundo
Monetário Internacional).
Aos meus caros leitores que corajosamente seguiram
até aqui - em tempos de lacração via twitter - é necessário
alertar que a manutenção do receituário, até aqui prescrito
e adotado como único possível, implica assunção de riscos
desconhecidos e tão inimagináveis como essa desastrosa
pandemia. É urgente uma guinada radical nos rumos sociais
e econômicos, pois se avizinham possiblidades piores
do que o maldito Covid-19. Basta olhar para o passado e
lembrar, a todo momento, a frase de Ernest Hemingway...
maio | junho • 63