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TIAGO TOY
de um negócio como qualquer outro?
T.T.: Competição na Literatura é, na minha visão, esclarecedora.
Ao testemunhar os lutadores (autores, selos e editoras, não importa se
pequenos ou grandes) se estapeando por um espaço, fica claro para
mim que a valia dada ali é aos responsáveis pelo livro existir, e não
ao conteúdo dele. Um texto bom, forte é o único vencedor em uma
briga que não existe. Há espaço para todos, bons e medíocres, e
nem só os bons permanecem nele. Lamentavelmente há público
para ambos. Se é apenas um negócio, deixe-os brigar pelo próprio
pão. O livro que de fato vale a pena está ali, quietinho na prateleira,
esperando para ser descoberto ou sendo falado pelos que souberam
apreciá-lo.
EVa: Qual o verdadeiro motivo ou incentivo para realizar suas
atividades?
T.T.: Se a atividade em questão for a escrita, a inspiração me motiva
e o dinheiro a incentiva. Não admiro Poe por ter morrido sem um
puto no bolso, delirante, dominado pelo vício. Admiro King por ter
vencido o vício e construído um império, conquistado seu público
com seu estilo tão criticado e aclamado. Não admiro aquele autor
iniciante com muito potencial, mas pouca disposição a esperar.
Admiro aquele autor que está há 10 anos no mercado e dois li-
vros lançados nesse ínterim, ainda sendo falado, vendido, elogiado
e criticado. Arrogância certificadamente excita. Prepotência porosa me
broxa.
EVa: Autopromoção: você utiliza alguma? Como você divulga
seu trabalho ou atividade?
T.T.: Eu deixo meu trabalho falar por si. Tudo o que eu
tinha que dizer foi dito, impresso e publicado. Eu sou péssi-
mo em marketing. Até já tentei fazê-lo e entendê-lo, mas não
funcionou. Não passo meus dias tentando bolar sacadas geniais
para conseguir curtidas, ou me esforçando para socializar com con-
tatos que me trarão centenas de seguidores. Publico o que sinto
necessidade de publicar. Me relaciono com quem me identifico.
Não meço palavras, não sou apaixonado por edição, sou impa-
ciente quanto a maquiar. Entrego o cru. Que comam meu cru.
Se gostarem, fascinante, então não sou tão mau. Se detestarem ou
(pior) não sentirem nada, joguem no lixo e partam para o próximo.
O livre-arbítrio ainda não nos foi negado.
EVa: Literatura é um mundo à parte? Deveria ser uma
religião mesmo estando presente em todos os assuntos do
mundo? Ou Literatura é apenas uma obrigação para o ser
humano?
T.T.: Literatura é, apenas isso. Não aconselharia torná-la uma
religião no sentido manifesto da palavra. Religião julga. Reli-
gião mata. Em contrapartida, Literatura preenche, dá vida, se
debate, faz pensar, traz a curiosidade, o interesse em descobrir
mais, entretém, faz sentir, mascara a solidão, s ilencia a algazarra,
faz crescer. Não julgo os que não leem, mas sinto por eles. Conheço
o lado bom de cada mundo. Cuido do corpo assim como cuido
da mente, e estou em paz com isso. Se você também está, siga seu
caminho. Para mim e para você há frutos a serem colhidos à frente.
Os sabores, no entanto, serão diferentes, de acordo com as experi-
ências vividas.
EVa: Mulheres na Literatura. Você respeita ou há algum
preconceito?
T.T.: Quando o tema é Literatura não há fragilidade nenhu-
ma no sexo feminino. Há uma perspicácia elegante, e delicade-
za é diferente de fragilidade. Homens, por mais delicados que
alguns pareçam, especialmente quando falamos de escritores,
ainda são truculentos em suas ideias. Quem inventou a guerra?
Um homem. Quem pregou que há raças superiores apenas levando
em consideração a cor da pele? Um homem. Quem domina
massas de ovelhas temerosas e ignorantes? Um homem, e, por
mais incrível que pareça, sem nem mesmo existir. Mulheres são
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