Dragões #447 Fev 2024 | Page 49

“ Joguei futsal e pratiquei andebol , mas não tinha jeito para nenhum deles . Hoje , se me virem chutar uma bola , perceberão que era mesmo terrível .”
VOLEIBOL

Para isso contará com a ajuda de “ uma irmã ” chamada Joana Resende e com os ensinamentos de “ um dos melhores treinadores ” da atualidade . “ Podem acreditar que vamos continuar a trabalhar para ganhar todos os jogos , nem sempre com boas exibições nem com vitórias por 3-0 , mas vamos lutar pela vitória sempre ”, garante “ uma jogadora que tem todas as funções dentro do campo ” e que “ basicamente faz tudo ”. Eis Victória Alves , Vicky para os mais próximos .

Que idade tinha quando nasceu a paixão pelo voleibol ? Comecei a jogar quando tinha dez anos , num clube da minha escola , e no início jogava só por diversão . Depois acabei por perceber que tinha algum talento escondido , que precisava de ser lapidado , e foi aí que comecei a levar mais a sério . Abandonei os outros desportos que também praticava e passei a dedicar-me a 100 % ao vólei .
Que outros desportos ? Joguei futsal e pratiquei andebol , mas não tinha jeito para nenhum deles . Hoje , se me virem chutar uma bola , perceberão que era mesmo terrível .
Qual foi o motivo para começar no voleibol de praia e não no indoor ? A escola onde jogava não tinha uma quadra muito boa , então o meu treinador preferia que treinássemos na areia porque lá tínhamos melhores condições . Foi aí que comecei a dar os primeiros passos , comecei a jogar torneios de vólei de praia e só depois é que me mudei para a quadra .
Por que é que o voleibol é um desporto tão popular no Brasil ? No feminino é muito mais popular porque é a modalidade que as meninas escolhem , gostam e praticam . Acho que isso se deve ao facto de não haver contacto , o que para nós , mulheres , torna tudo mais acessível .
Já jogava como zona 4 nessa altura ? Porquê essa posição ? Sim , sempre fui zona 4 . É uma jogadora que tem todas as funções dentro do campo , basicamente faz tudo . Receções , defesas , blocos , serviços , ataques … É uma posição muito ativa na quadra .
Quando e como surgiu oportunidade de vir para o Desportivo das Aves ? O clube em que estava ficou sem o patrocinador na Superliga do Brasil e fiquei sem receber
salário , juntamente com outras colegas mais novas , e o meu empresário achou que a melhor opção era procurar outro clube . Passámos imenso tempo à procura , estávamos em dezembro e no mercado de inverno é muito difícil uma atleta desconhecida arranjar um bom clube fora do país . Ele arranjou-me um contrato na Grécia , mas era só para a temporada seguinte , e eu ia ficar muito tempo parada . Depois , do nada , o treinador do Aves entrou em contacto comigo pelo Facebook e apresentou-me a proposta para substituir uma atleta lesionada . Foi assim que caí de paraquedas em Portugal .
Quão difícil foi a adaptação a essa nova realidade com apenas 19 anos ? Sempre tive muita facilidade em adaptar-me a sítios diferentes . Tive um choque quando cheguei à Vila das Aves , porque estava habituada a morar em cidades muito grandes , mas cheguei a uma vila pequena que é muito acolhedora . As pessoas trataramnos sempre muito bem , não só o pessoal do clube , mas também o da vila . Fizeram tudo para nos sentirmos em casa e isso facilitou muito o processo de adaptação .
Que desafios enfrenta uma jovem atleta brasileira mal aterra em Portugal ? Por incrível que pareça , a língua é um bocado assustadora .

“ Joguei futsal e pratiquei andebol , mas não tinha jeito para nenhum deles . Hoje , se me virem chutar uma bola , perceberão que era mesmo terrível .”

Falamos todos português , mas o português de Portugal e o português do Brasil têm muitas diferenças . Custava-me entender muitas coisas que as pessoas diziam e alguns termos do voleibol são diferentes , mas de resto foi tranquilo .
Não sentiu saudades de casa durante os primeiros tempos na Europa ? Sentia , não só saudades de casa , mas também saudades dos amigos . Estava num país muito distante sem alguém que eu amasse por perto . Era muito mais fácil se tivéssemos sempre as pessoas de quem gostamos por perto .
Sair do Aves para o AVC era o passo certo ou queria ter dado um maior ? Era o passo que queria dar e o único que surgiu . Fiz um bom campeonato no Aves , infelizmente não atingimos os objetivos , mas eu destaquei-me e consegui ir para a primeira divisão . Sempre que conseguimos subir um degrau estamos no caminho que procuramos .
Em Famalicão encontrou a Joana Resende . Tornaram-se logo próximas ? Foi uma amizade que se fortaleceu com o tempo , mas sempre nos demos muito bem . A Joana é uma pessoa muito fácil de lidar , sou suspeita porque hoje somos as melhores amigas , tenho-a como uma irmã . Estar com ela é fácil e jogar com ela ainda mais , porque é uma craque . Deu-me muito suporte numa altura em que eu tinha dificuldades na receção , ajudou-me em todos os momentos e isso para mim é a maior demonstração de amizade .
Qual foi o primeiro contacto que teve com o voleibol do FC Porto ? Foi uma chamada do prof . José Moreira para dizer que estavam a planear fazer uma parceria com o FC Porto e perguntar se eu estaria interessada . Gostei do que ouvi , da proposta , das condições e depois desse contacto decidi que era o passo certo a dar naquele momento .
Venceu logo a Supertaça e a Taça . Quão diferente é a motivação ao lutar por títulos ? Quando jogamos neste clube o importante são os títulos .
49 REVISTA DRAGÕES FEVEREIRO 2024