Dragões #445 Dez 2023 | Page 38

VOLEIBOL
“ FUI UM JOGADOR MÉDIO . A MINHA CARREIRA NÃO TEVE GRANDE EXPRESSÃO ,
APESAR DE TER VIVIDO MOMENTOS
MUITO FELIZES E DE TER JOGADO A LIGA DOS CAMPEÕES . A MINHA CARREIRA COMO JOGADOR NÃO FOI BRILHANTE ,
FOI SOBRETUDO MUITO FELIZ .”
especial que foi o meu primeiro treinador , o Bruno Carvalho , antes de sermos colegas dentro de campo e no banco . Esse papel de adjunto foi o único momento em que trabalhei no masculino , apenas e só pela pessoa que me fez o convite . A meio da época ele decide rescindir e passo eu para técnico principal dos seniores enquanto trabalhava com as sub-18 . Essa meia época correu francamente bem e fui convidado para iniciar o projeto nas seniores , que eram tricampeãs nacionais , mas houve uma debandada muito grande no plantel . Quando assinámos , e não faltava muito para a época começar , tínhamos quatro jogadoras no plantel . Tivemos que recomeçar o processo quando apareceu a AJM / FC Porto e o Sporting na primeira divisão . Os plantéis com menor capacidade financeira , como o do Leixões , sofreram muito . Começámos do zero , essa época foi interrompida pela pandemia e tivemos que recomeçar outra vez na seguinte . No meio da AJM / FC Porto , do
Sporting e do Benfica , clubes que tradicionalmente andam no topo , termos ganho duas Taças de Portugal e jogado duas finais da Liga foi francamente positivo . Podia ter sido melhor , é verdade , mas termos disputado quatro finais consecutivas elevou muito o trabalho de todos no Leixões . Podíamos ter conseguido mais um ou dois títulos , sim , mas a caminhada foi muito bonita .
Aquelas finais contra o FC Porto , com grandes ambientes na Nave e no Arena , provaram que a força do voleibol está no Norte ? Eu acho que está , não só pelo número de clubes , mas sobretudo pelo espírito que se vive . Ter mais clubes associados obviamente que faz diferença , e não estou a dizer que os do Sul não têm expressão , mas a verdade é que as pessoas do Norte gostam mais de voleibol . Os ambientes que tenho visto no feminino não têm paralelo . É difícil encontrar , por essa Europa fora , pavilhões tão vestidos e com pessoas tão
apaixonadas . As pessoas do Norte e do Sul são diferentes . As do Norte são mais apaixonadas e demonstram essa paixão nos pavilhões . Tem sido incrível ver o crescimento do voleibol feminino , há seis ou sete anos os pavilhões estavam despidos e agora têm lotação esgotada .
Pode dizer-nos qual foi o primeiro contacto que teve com o FC Porto ? Ainda a última época estava a decorrer e já havia uma equipa em contacto comigo para iniciar um projeto noutro clube , mas sempre disse que se houvesse a possibilidade de assinar pelo FC Porto eu esperaria e essa era a minha primeira opção desde o primeiro momento . Estava em negociações com outro clube e não fazíamos ideia do interesse do FC Porto até receber uma chamada no final de março . A partir daí foi tudo muito fácil e rápido , porque era a estrutura , o projeto
e o clube onde queria trabalhar .
Não houve entraves à troca entre rivais ? Deixei tudo em pratos limpos e é uma das coisas de que mais me orgulho . Falei com as pessoas do Leixões , disse que tinha uma proposta e que a ia aceitar . O presidente e a restante direção perceberam que era uma oportunidade muito boa e desejaram-me a maior das sortes , nem sequer tentaram provocar qualquer coisa à volta disto .
Que influência teve na construção do projeto portista ? Todas as 14 jogadoras foram escolhidas por mim . Algumas foram treinadas por mim , outras foram minhas adversárias e as que vieram de fora resultam do contacto que tivemos com empresários e do nosso conhecimento do mercado europeu e mundial . Já as conhecíamos e foram todas escolhidas por nós com a noção
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