Dragões #431 Out 2022 | Page 12

ENTREVISTA

Nasceu no Canadá , onde a tradição futebolística é muito diferente da portuguesa , mas a sua paixão sempre foi o futebol . Foi fácil seguir fiel às raízes do seu pai e do seu irmão mais velho ou sentiu-se tentado a experimentar outros desportos ? O meu pai é da Nazaré e sempre jogou futebol a um nível amador . Quando emigrou e acabei por nascer , raramente ouvia falar de outros desportos que não o futebol . Sempre tivemos a intenção de jogar futebol , ele implementou isso na família . No Canadá , por causa do frio , jogávamos a liga de verão e , quando chegámos a Portugal , continuámos a jogar .

Aquando da sua chegada ao FC Porto , o seu irmão lembrou um episódio na Taça do Distrito na Nazaré em que foram às Caldas da Rainha nos quartos de final e o Eustaquio assumiu a quinta grande penalidade , estando a jogar no escalão acima . Essa coragem e personalidade foram dois ingredientes fortes para o seu sucesso até aqui ? algo natural . Não houve pressão , fui bater o penálti sem pensar em muita coisa , acabei por marcar e assim foi .
A certo ponto da carreira , decide ir jogar para um grande clube do México em vez de continuar na Europa . Porque tomou essa decisão ? Estava no Chaves , tinha chegado em janeiro e feito seis meses muito bons . Na nova época , estava numa situação difícil , estávamos mal classificados na tabela , mas eu sentia que estava preparado para dar o salto para uma equipa maior . Queria sentir o peso de um grande clube , em Portugal não houve contactos e o Cruz Azul , um grande clube , quis-me e eu decidi arriscar . É um dos maiores clubes do México , tem muitos adeptos e foi mais para ter essa experiência , não foi a pensar que não voltaria à Europa . Fui a pensar que ia competir no futebol mexicano , que é muito competitivo e forte , e depois iria voltar à Europa para um clube grande . Infelizmente , devido a uma lesão , não consegui ficar lá muito tempo .
“ SINTO QUE GANHEI MAIS VELOCIDADE , COMECEI A COMPREENDER MELHOR O JOGO , ESTOU A PISAR TERRENOS DIFERENTES , A CHEGAR MAIS À ÁREA , A CONSEGUIR TER MAIS NÚMEROS E JÁ TENHO TRÊS ASSISTÊNCIAS E UM GOLO .”
A verdade é que sempre tive confiança por parte do meu irmão e da equipa dele , na altura . Eu era iniciado de primeiro ano , ele era juvenil de segundo e , nesse jogo em particular , acabei por bater o quinto penálti , porque os amigos do meu irmão eram os meus amigos , estávamos todos no mesmo meio . O treinador , penso que era o Fernando , tinha confiança em mim e foi
A experiência no Cruz Azul facilitou-lhe a vida para quando tem de jogar num Estádio do Dragão cheio ? Lembro-me que no Cruz Azul íamos aos Estados Unidos jogar para a Leagues Cup ou fazer algum amigável e o estádio estava cheio com adeptos do Cruz Azul , era impressionante , estavam em todo o lado . Aqui tem de haver um equilíbrio ,
podem estar muitos adeptos nos estádios e não haver essa pressão , porque podem perder ou ganhar e o que importa é estar lá , mas no FC Porto não é assim . Aqui enchem os estádios , mas é com a intenção de apoiar a equipa para ganhar e há essa pressão saudável de empurrar a equipa para a frente . No FC Porto é diferente porque há essa pressão extra e não é qualquer
jogador que se consegue adaptar a esse tipo de exigência .
Defrontou o FC Porto enquanto jogador do Leixões , do Chaves e do Paços de Ferreira . Como é estar do outro lado ? Acabava por ser um jogo em que nos retiravam um bocado a pressão , porque sabíamos que o FC Porto tinha de ganhar , sim ou sim . Nós também tínhamos
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