É também um presidente com obra . Do rebaixamento do Estádio das Antas ao Museu , passando pelo Estádio do Dragão ou pelo Dragão Arena , qual delas o encanta mais ? Todas as obras têm uma história . Lembro-me que o Estádio das Antas , em 1982 , passou a ter um público que num jogo normal enchia o estádio . Nos jogos de futebol havia gente na pista por todo o campo . Ainda hoje não sei como é que era possível isso acontecer . Se hoje tivéssemos gente na pista e o juiz de linha a correr ao lado das pessoas , acho que não acabava um jogo , mas era assim . A minha filosofia foi assim : não podíamos aumentar o preço dos bilhetes , porque era uma altura difícil e as pessoas que vinham ao futebol não tinham possibilidades , por isso achei que a única possibilidade era aumentar a lotação . Falei com o Óscar Cruz , que era o meu diretor das obras , e pus-lhe a questão : “ Seria possível ou é uma loucura ?”. E ele disse que ia |
estudar . Reuniu com os engenheiros – o eng .º Valente e outros – e um dia disse-me : “ Presidente , isto pode-se fazer ”. Lembro-me de que quando disse à direção “ vamos fazer o rebaixamento do estádio ” a reação foi : “ O quê ?”. Uns diziam que passava um rio por baixo , outros que havia um cemitério por baixo do campo … E eu disse : “ O que me dizem é que se pode fazer ”. Então pedimos um subsídio do Estado que foi indeferido porque a obra era irrealizável . Eu e o engenheiro Pimentel fomos falar com o eng .º Valente de Oliveira e eu disse-lhe : “ Senhor ministro , nós queremos fazer isto , isto vai aumentar a lotação em 20 mil lugares – que era quase um estádio novo –, e nós achamos que por lei temos direito ao subsídio e que inviabilizarem-nos isto não é correto ”. Então ele disse : “ Se vocês têm um estudo , mandem para cá o estudo e nós vamos ver ”. Havia a má vontade de um organismo que era a DGERU , que era a que dava |
os pareceres . Um dia a DGERU veio fazer uma visita ao estádio para tentar provar que era impossível , e o Óscar Cruz , que era e é uma figura fantástica , foi à reunião com eles . E eles diziam : “ Isto não pode ser por isto …”. E ele contrapunha . E eles avançavam outro argumento , e ele contrapunha . Às tantas , o engenheiro-chefe vira-se para o Óscar Cruz e diz : “ O senhor engenheiro pode ter razão ”. E diz o Óscar Cruz : “ Engenheiro , não . Eu sou pedreiro . Engenheiros são os meus empregados ”. O homem ficou passado , mas lá deferiram e fez-se a obra . Lembro-me que o meu presidente do Conselho Fiscal disse que eu era um inconsciente , que podia acontecer uma desgraça e o estádio podia cair , que não queria ser conivente com aquela loucura e demitiu-se . “ É que vai tudo preso ”, dizia-me ele . E eu disse-lhe : “ Olhe , se eu for preso por ter feito uma obra para o FC Porto , não há problema nenhum . Eu vou |
fazer a obra ”. E fizemos . Na altura houve sugestões para convidarmos o prof . Cavaco Silva , que era o primeiro-ministro , para vir inaugurar o rebaixamento , e eu disse : “ Não . O prof . Cavaco Silva pode vir assistir ao rebaixamento , quem vai inaugurar e quem vai ficar com o nome na lápide vai ser o eng .º Valente de Oliveira ”. E o eng .º Valente de Oliveira : “ Ai , mas o primeiroministro …”. E eu disse : “ Se não quer ir , não vai . Ninguém inaugura . Inauguro eu em sua representação ”. Ele compreendeu e veio . O que é certo é que se fez . Essa obra deume realmente muito gozo na medida em que , desde o presidente do Conselho Fiscal – que me chamou inconsciente – até muitos diretores que achavam que era uma loucura e que estávamos a arruinar o clube … O certo é que ela durou e lá se festejou o título europeu de 1987 e fez-se lá o caminho até à meia-final , com o estádio sempre cheio , com os tais mais 20 mil lugares . Essa |