Maria Amélia Canossa nasceu no Porto , a 19 de outubro de 1933 , muito antes das primeiras ecografias fetais , quando os pais esperavam um filho varão . “ Era uma pequena enfezada ”, contou a cantora à DRAGÕES em outubro de 2006 , reproduzindo com rigor as palavras do avô na primeira vez em que a segurou nos braços . Em poucos anos , Maria Amélia transformou-se numa “ maria-rapaz ” – as palavras são agora da própria . Tinha o futebol entre as brincadeiras preferidas e desafiava frequentemente rapazes e raparigas para “ os jogos da bola ” em que ocupava a posição |
de guarda-redes em balizas improvisadas , esfolando “ mãos e joelhos ” e deixando a avó “ danada ”. A paixão pelo futebol nasceu aos seis anos , quando começou a acompanhar o pai e o avô para assistir aos jogos do FC Porto no Campo da Constituição , numa prática que depressa se tornou um hábito dominical . “ Era fantástico ”. O sorriso não a deixava mentir ou exagerar na escolha de adjetivos . “ Era realmente incrível ! A cada vez que havia um golo , a bancada , toda ela em madeira , abanava . Estávamos sempre a ver quando aquilo caía ”. Mas aquele estranho fascínio , que motivava naturais olhares de reprovação para a época , não foi |
exatamente o primeiro , porque o amor pela música surgiu antes , já gravado no código genético . “ A minha mãe tinha uma voz divina e o meu pai , que também gostava de cantarolar , era mais dado à ópera ”. Mais tarde , assinaria contrato com a Rádio Triunfo , editora com a qual passou a gravar três discos por ano . “ Aos 15 anos já tinha um certo nome ”, assegurou . Ganhou vários concursos radiofónicos e passou a ser conhecida como a “ Princesa da Rádio ”. A fama crescente não a impediu de acompanhar as deslocações do FC Porto a Lisboa . Fazia-o de comboio , entre grandes grupos de adeptos . “ Cantava para aquela |
gente toda , andava de carruagem em carruagem , era uma alegria …”. Seguiram-se convites para as festas do clube , na altura especialmente empenhado na recolha de fundos para a construção do Estádio das Antas , e , mais tarde , o desafio do presidente Cesário Bonito . Depois da marcha , pediram-lhe que interpretasse o hino , já com letra de Heitor Campos Monteiro e música de António Figueiredo e Melo . Acedeu , incomodou “ meio mundo ” e só descansou ao escutar os acordes de algo “ poderoso ” e “ com alma ”. “ É isto , maestro , é mesmo isto !”, gritou na altura . Queria , em resumo , “ um hino que transbordasse poder ”, capaz de |