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O andebol não foi o desporto a que esteve exposto no início, mas
Miguel Alves acabou cedo por ser contagiado pela modalidade que
acabaria mesmo por lhe dar a profissão. Chegou criança ao FC Porto
e foi lá que se formou como jogador e homem, ficando vacinado com
a mística dos Dragões. O jovem portuense era ainda júnior quando foi
testado nos seniores, a poucos meses do heptacampeonato que lhe
trouxe o primeiro dos quatro títulos já conquistados de azul e branco.
ENTREVISTA de RUI AZEVEDO
D
epois de um ano e meio de empréstimo à ADA Maia, regressou
ao clube do coração para prosseguir uma carreira que não
tem sido imune a lesões, a última delas já esta temporada e
que o pôs em tratamento mais de quatro meses. No entanto,
têm sido mais os bons momentos do ponta direita num plantel portista
que esta época ainda estava com mais saúde do que na anterior, a da
histórica “dobradinha”, embora tenha visto o mérito ficar de quarentena
pela decisão da federação, que devido ao surto do novo coronavírus deu
por terminado o campeonato sem atribuir o título aos azuis e brancos,
vencedores da primeira fase. Aos 23 anos, Miguel Alves ou Tito, porque
alguém achou que ele tinha cara disso, mostra quem é e o circuito que
quer seguir numa descontaminada manifestação de portismo.
Como apareceu o
andebol na sua vida?
Jogava futsal e treinava num
pavilhão onde treinavam também
os juvenis do andebol do FC Porto
e às vezes, enquanto esperava
pela minha mãe, no final do treino,
ficava a ver o andebol até que
um dia a minha mãe me sugeriu
experimentar esta modalidade.
Como já tinha jogado durante
um ano polo aquático, podia
ser que gostasse e até tivesse
algum jeito. Um dia, depois do
treino de futsal, fomos pedir
informações e disseram-nos que
os treinos para a minha idade
(infantil) eram na Escola Nicolau
Nasoni e lá fui eu experimentar.
É um produto da formação do
FC Porto. Quão importantes
foram os ensinamentos
e acompanhamento que
recebeu durante esse período
para o seu desenvolvimento
enquanto profissional?
Penso que foram determinantes.
Na minha formação, os meus
treinadores foram o João Azevedo,
Mário Soares, Carlos Martingo,
Ricardo Moreira e Ricardo Costa.
Acho que não era possível pedir
melhor e, se assim não fosse,
talvez não tivesse chegado até
aqui. Tenho uma consideração
enorme por todos eles e agradeço
por tudo o que me ensinaram e
por terem apostado em mim.
O percurso nas camadas jovens
do FC Porto também serviu para
a sua formação enquanto homem,
ou seja, sente que adquiriu a
chamada mística, os valores
que caracterizam o clube?
Apesar de achar que a verdadeira
mística não se ensina, ou seja,
já está dentro de nós, sinto
que o facto de já estar há tanto
tempo ligado ao FC Porto fez
com que essa dita mística fosse
cada vez maior e mais forte,
sobretudo tendo em conta que
fui crescendo no clube na altura
em que os seniores ganharam
sete campeonatos seguidos e
eram um exemplo para todos.
Estreou-se pela equipa principal
do FC Porto ainda como júnior,
em janeiro de 2015, frente ao
Boa Hora, num encontro da
Taça de Portugal. Imagino
que seja um momento de que
nunca se vai esquecer…
Sem dúvida! Era o meu primeiro
ano de júnior e nessa época tive
a oportunidade de fazer parte da
equipa sénior na época em que
fomos heptacampeões, o que
me deixa ainda mais satisfeito.
Treinava com eles todos os
dias e isso também facilitou
essa estreia. O primeiro jogo
no Dragão Arena também foi
algo que me marcou imenso.
Na época 2015/16, foi
emprestado à ADA Maia e pôde
ganhar experiência no maior
campeonato nacional. Era a
transição de que precisava
para poder ganhar espaço na
equipa principal do FC Porto?
Sim, era a melhor opção a
tomar. Acho que ainda não
tinha experiência e qualidade
suficientes para ser o segunda
ponta direita de uma equipa
como o FC Porto, ainda para mais
com a vinda do António Areia
nessa época. Por isso, jogar na
primeira divisão, numa equipa
com outros objetivos, seria
muito benéfíco para mim.
Regressou ao clube em janeiro
de 2017. Quando voltou ao
FC Porto já era um jogador
muito mais evoluído do que
aquando do empréstimo?
Sinto que evoluí bastante, mas não
tanto como gostaria. Infelizmente,
na primeira época ao serviço
da ADA Maia lesionei-me com
REVISTA DRAGÕES ABRIL 2020