Dragões #467 Out 2025 | Page 52

NATAÇÃO
OUTUBRO 2025 REVISTA DRAGÕES comigo há 40 ou 50 anos, embora não estejamos juntos diariamente.
Foi fácil conciliar os estudos? Nunca fui um grande exemplo nos estudos. Ainda levei as coisas direitinhas até ao 12.º ano, mas depois não continuei a estudar porque treinava todos os dias de manhã e de tarde e ainda fazia uma sessão de ginásio. Resultou bem e depois, quando deixei de nadar, já tinha o curso de treinador e comecei logo a trabalhar como adjunto da Teresa Figueiras. Por isso, a faculdade acabou por ficar em stand-by.
Onde é que arranjava motivação para fazer tantos sacrifícios? Sempre fui muito bairrista. Nasci e cresci nas Fontaínhas e uma das coisas que me dava mais motivação era nadar no FC Porto. Toda a gente me conhecia por ser atleta do clube e eu sentia um orgulho muito grande. Além disso, queria muito participar nos Jogos Olímpicos e, para isso, tinha de me levantar cedo e treinar dez a onze vezes por semana. Não havia outra hipótese.
Como resume o percurso no FC Porto? Foram 24 anos como atleta deste clube e, felizmente, tive muitos mais altos do que baixos. Os baixos também existem, o próprio Michael Phelps também os teve. Ainda assim, tive muitos mais momentos altos. O mais alto foi a participação nos Jogos Olímpicos, mas tenho muito boas recordações de Campeonatos Mundiais e Europeus. Uma das provas que me dava mais gosto era o Nacional de clubes e até tenho mais de 250 títulos nacionais individuais. Fui muito feliz no FC Porto, mas também houve alturas em que as coisas não correram tão bem. De vez em quando perdíamos o campeonato para o nosso rival e saíamos de Lisboa já a pensar na tática para o ano seguinte.
Eram todos portistas? Claro, acordávamos e sentíamos aquele orgulho por irmos treinar para as Antas. Não falhávamos um jogo ao domingo, íamos todos juntos ao futebol. Havia aquela cultura do clube e era uma paixão que nos unia. Chegámos a ter um ou dois colegas que vieram de Lisboa e um deles, hoje em dia, é um dos maiores portistas que conheço. Conseguíamos convertê-los no balneário.
Como foi o percurso até chegar aos Jogos Olímpicos? Já tinha ficado relativamente perto de atingir os mínimos em 1984. Aliás, lembro-me de os tentar atingir precisamente nesta piscina, que tem um simbolismo especial para mim, porque fui o primeiro atleta a ganhar uma prova em Campanhã. Na altura treinávamos muito, nem era só por nós, mas também pelos nossos colegas e até ficávamos sem falar uns com os outros quando sentíamos que alguém não tinha dado o máximo. Estávamos todos unidos em torno do mesmo objetivo. Antes de Seul, cheguei a achar que ia atingir os mínimos no Mundial de 1986, mas a prova não me correu bem e, pouco depois, perdi o meu pai. Acabei por conseguir apurar-me em 1987, no Campeonato da Europa, numa prova em que me lembrei muito do meu pai. Senti uma força extra, porque ele andava sempre com a tabela dos mínimos na carteira e queria muito que eu fosse aos Jogos Olímpicos.
Quais eram as expectativas em Seul? Não basta chegar aos Jogos Olímpicos, depois temos mesmo de dar o nosso melhor, porque é a prova das nossas vidas. A minha correu muito bem. Na altura bati o recorde nacional e voltei com a sensação de dever cumprido. Nada bate a sensação de participar nos Jogos Olímpicos, já tive a oportunidade de
“ Está a ser uma experiência extraordinária, ainda melhor do que esperava. Os meus atletas dizem-me que ando com um sorriso diferente e é verdade. Sinto-me em casa. O facto de andar novamente com este emblema ao peito faz com que as coisas pareçam mais fáceis.”
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