Dragões #466 Set 2025 | Page 6

A VISÃO DO PRESIDENTE
SETEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES

Um Clube com norte numa liga sem rumo

Calendários erráticos, decisões tardias e leituras enviesadas dos regulamentos minam a competitividade. O FC Porto exige liderança credível, respeito pelo jogo e futuro para o campeonato português.

O Desporto e o futebol em particular vivem muito de emoções e num clube como o FC Porto a forma como os Sócios e adeptos vivem e expressam essas emoções são marcas da nossa singularidade. O amor a este Clube vive de manifestações diárias de Portismo um pouco por todo o lado, sempre com uma intensidade que não deixa ninguém indiferente. Presenças empolgadas no Dragão e no Arena todas as jornadas, irmos jogar a casa dos nossos adversários e lá encontrarmos sempre muitos Portistas que apoiam as nossas equipas de uma forma extraordinária, entrarmos em cafés e restaurantes um pouco por todo o lado e sentirmos a paixão com que os nossos defendem o Clube em qualquer discussão à volta de um resultado, de percorrermos o mundo e encontrarmos sempre alguém com uma camisola azul e branca … todos, orgulhosos da nossa História, mas ansiando pela próxima vitória e pelo título que ambicionamos conquistar com talento, com trabalho, com rigor e com a ambição de nos superarmos sempre com o realismo de saber que os obstáculos serão sempre muitos.
Este realismo, este ter os pés bem assentes na terra é também uma das nossas marcas, obriga-nos a olhar com preocupação para o contínuo enfraquecimento do futebol português, transformado num palco de trapalhadas em catadupa. Depois de sermos ultrapassados pelos Países Baixos no ranking de coeficientes dos países da UEFA, vemos a Bélgica aproximar-se rápida e perigosamente. A nossa Liga enfrenta o risco real de manter o pobre lugar que ocupa ou até de perder mais um, o que acarretaria consequências graves para todo o futebol nacional. Se a Bélgica ultrapassar Portugal, apenas o campeão nacional participará na principal competição europeia, comprometendo receitas financeiras fundamentais para a sustentabilidade dos clubes( que veem uma parte ser solidariamente repartida por todos os clubes da Primeira e da Segunda Liga), aumentarão as dificuldades de captação e retenção de talentos e em consequência a qualidade do espetáculo e dos seus intervenientes. Obviamente, o valor da liga no seu todo, numa fase em que seria importante termos uma imagem e reputação robustas, cai a pique, dificultando a venda futura e a centralização dos direitos audiovisuais( que cada vez faz menos sentido na atual distribuição de adeptos na demografia portuguesa) e uma internacionalização pujante da marca. Esta situação exigiria uma resposta unida e responsável de todos os clubes, liderados por uma Liga forte e credível para garantir a competitividade do futebol português a médio e longo prazo. Esta preocupação é clara e justificaria, por parte de todos, apreensão.
O que tem feito o principal responsável pela resposta a este adivinhado declínio? Pouco. Muito pouco. Traz respostas, mobiliza os clubes para uma resposta coletiva e organizada? Não. É inócuo e vazio na sua liderança dos Clubes Portugueses, o que não impede a multiplicação de artigos e colunas de opinião laudatórias nos diferentes jornais desportivos dos seus extremamente bem pagos diretores executivos. Para quando um artigo sobre a Segunda Liga ser o campeonato com menos tempo efetivo de jogadas em open-play de 66 ligas do mundo inteiro, acima das“ competitivas” ligas da Costa Rica, Peru, Equador e Emirados Árabes Unidos?
Somos embrulhados em sucessivos episódios, por um lado, caricatos, por outro, em comportamentos continuados que nos fazem duvidar das intenções de certos intervenientes. O que assistimos nos últimos tempos é bem ilustrativo do que escrevo: ficam para a história os“ casos” do quase adiamento do jogo com o CD Nacional e o adiamento do encontro com o FC Arouca, decisões tomadas à margem do bom-senso, obrigando a leituras enviesadas e esforçadas dos regulamentos. Irresponsabilidades que, além de obrigarem o FC Porto a disputar três jogos num curto espaço de tempo, comprometem uma preparação otimizada e a gestão do seu esforço, seja para as competições europeias – em que o FC Porto tentará somar pontos para o ranking UEFA –, seja para jogos vitais da Liga – um FC Porto x SL Benfica, por mero acaso.
Dessa forma, abro aqui um breve parêntesis para evidenciar o fantástico trabalho realizado pelo nosso departamento clínico, cuja competência e entrega têm sido fundamentais na recuperação célere de muitos dos nossos atletas. São esforços pouco visíveis, mas absolutamente decisivos para garantir que a equipa se mantém competitiva em todas as frentes, mesmo perante um calendário dificultado por terceiros.
Pior seria impossível: o que dizer de quem não tem capacidade de organizar os calendários competitivos de forma a não prejudicar um Clube que está envolvido nas competições europeias ou de alguém que acaba por fomentar confrontos institucionais desnecessários entre clubes que deveriam estar unidos na defesa do fortalecimento de uma Liga que se desvaloriza continuadamente?
Entretanto, vamos fazendo o nosso caminho, suportados numa força que é só nossa e por isso vamos incomodando muita gente. Apesar destes obstáculos, os resultados são prometedores e todos estamos mobilizados. A posição que ocupamos na classificação permite-nos estar como gostamos de estar, a depender de nós próprios, e o sucesso com que
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