Dragões #466 Set 2025 | Page 47

FUTEBOL
SETEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES

Dos dois lados da barricada

Rostos comuns em camisolas diferentes. Este é o inventário dos que atam o FC Porto aos adversários da fase de liga num mosaico de estilos e princípios que atravessam épocas. A experiência conta e a ambição também.
TEXTO de ALBERTO BARBOSA
FC Porto ↔ Salzburg
No sopé dos Alpes, o elo de ligação concentra-se na pequena área. Marc Janko tornou-se goleador no Salzburg e em janeiro de 2012 trouxe com ele o cabeceamento fácil e o remate de primeira como referência para jogos fechados. O laço resume o que aproxima estas duas casas europeias: cultura de golo, rigor e frieza nos últimos metros. Quando o cruzamento chega tenso e ao primeiro poste, Janko lembra que a estética também pode ser sinónimo de eficácia e que a figura do 9 clássico ganha atualidade numa competição em que um toque decide eliminatórias.
FC Porto ↔ Utrecht
Utrecht é uma ida e volta com nome próprio: Riechedly Bazoer. Em 2018 pisou o Dragão por empréstimo, numa passagem curta e exigente, para semanas depois regressar a casa, onde recuperou minutos, confiança e polivalência entre as posições de médio e central. O percurso resume esta ponte: o FC Porto como laboratório de padrões táticos e intensidade e o Utrecht como rampa para consolidar forma e decisões, porque, por vezes, uma carreira precisa de dois portos seguros para reencontrar o rumo.
FC Porto ↔ Estrela Vermelha
Do Marakana ao Dragão, o fio condutor passa pelo meio-campo e pela área. Marko Grujić, filho da casa do Zvezda e campeão sérvio, foi Dragão entre 2020 e 2025, acrescentando centímetros, pressão e passe vertical. A 1 de setembro rescindiu contrato com o FC Porto; a 2 de setembro foi oficializado como reforço do AEK. Antes dele, Evandro afinou criatividade e bola parada em Belgrado, brilhou no Estoril e vestiu de azul e branco, fazendo o percurso inverso do brasileiro Edgar, que encontrou no Estrela Vermelha minutos e dureza competitiva.
FC Porto ↔ Nice
Da Riviera à Invicta, a ponte tem cinco estações. Ricardo Pereira“ explodiu” no Nice e voltou lateral de elite, Carlos Eduardo foi protagonista na noite dos cinco golos deixando perfume de 10, Jankauskas juntou referência de área a rigor tático, Malang Sarr, menino de Nice, vestiu de azul e branco para crescer na Europa e Pablo Rosario trouxe raio de ação e equilíbrio. A memória é comum: técnica com disciplina e um sotaque francês que ensinou a competir nos mais pequenos pormenores. Francesco Farioli fecha o círculo entre o Allianz Riviera e o Dragão com igual obsessão pelo detalhe.
FC Porto ↔ Nottingham Forest
Com o Nottingham Forest o traço comum escreve-se a partir da linha defensiva e das alas. Felipe chegou como patrão discreto, organizando a paisagem sob pressão, Willy Boly impôs-se no jogo aéreo e no corte limpo e Licá acrescentou diagonais, pressão e generosidade tática. Percursos diferentes com a mesma utilidade: simplificar, segurar a primeira bola e dar metros à equipa. Estes três levaram na bagagem nervo e organização para o City Ground.
FC Porto ↔ Rangers
Entre Dragão e Ibrox, a travessia é longa e sobram nomes para contar a história. Com ou sem braçadeira, Bruno Alves levou a voz de comando a dois palcos de culto, Pedro Mendes marcou o ritmo e ligou setores, Capucho e Daniel Candeias deram largura e cruzamentos com vírgula, Russell Latapy trouxe fantasia de toque curto, Emerson garantiu músculo e clarividência, Fábio Cardoso acrescentou sobriedade e posicionamento e Fábio Silva levou instinto de golo. O azul muda de tom, mas os princípios são os mesmos: liderança, critério e duelos a sério. Três décadas de idas e voltas mostram afinidade entre dois azuis exigentes.
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