FUTEBOL
JUNHO 2025 REVISTA DRAGÕES
“ Estamos em constante contacto com alguns clubes que estão muito mais adiantados e há quem fique perplexo com a nossa dinâmica, porque nós colocamos a atleta no centro do processo.”
Estamos a tentar trazer algumas delas para o clube e rentabilizar o seu rendimento, sabendo à partida que há instituições num patamar superior. Vamos marcar o nosso espaço e tentar fidelizá-las para darmos forma ao nosso projeto. Queremos ter jogadoras à Porto e equipas a jogarem dentro dessa identidade.
Já existem alguns exemplos no balneário? Uma jogadora à Porto é uma atleta que se sente confortável com a bola, toma boas decisões, consegue facilmente perceber os diferentes momentos do jogo até chegar à baliza, cria oportunidades de golo e ganha muitas vezes. Já temos uma base de jogadoras que se identificam com esses valores.
Como é que se gere o sucesso imediato num plantel tão jovem? É um trabalho desenvolvido por toda a estrutura. A Joana Oliveira, nossa team manager, tem uma forte experiência neste contexto, em parte pela vivência como treinadora, e ajudou-nos muito. Para as nossas jogadoras tudo isto é novo. Costumo dar o exemplo da Mariana Queirós, uma menina de 16 anos que aprendeu rapidamente o que era o jogo, ouviu todas as indicações nos treinos e conseguiu ser titular. Há outros exemplos, como o da Verónica [ Khudyakova ], uma jovem de 19 anos que marca aqueles golos todos e fica debaixo dos holofotes, a Matilde [ Vaz ] que assinou o primeiro golo no Dragão aos 16 anos e teve uma ascensão impressionante durante toda a temporada. A média de idades da equipa rondava os 19 anos e percebemos que faltava alguma experiência. A entrada da Tatiana [ Beleza ] e da Cristina [ Ferreira ] trouxe equilíbrio em momentos de stress em que as coisas não estavam a correr tão bem e foi muito importante, consolidou o aspeto emocional e permitiu fazer um percurso invicto no campeonato.
A maturidade da equipa foi posta à prova em várias ocasiões? Elas foram muito maduras, apesar de serem muito jovens. Lembro-me daquele dia inesquecível em que elas entraram pela primeira vez num Estádio do Dragão completamente cheio e tiveram a capacidade de baixar o nível de nervosismo e apresentar aquela qualidade de jogo. A equipa teve sempre muito apoio dos sócios e simpatizantes, a assistência no miniestádio do Olival foi sempre significativa e isso ajudou-nos muito. Os adeptos desenvolveram um carinho especial pela equipa. O facto de estarem a viver um sonho e de serem frequentemente solicitadas pela comunicação social não foi fácil para elas. Por trás houve o trabalho de uma equipa multidisciplinar que as ajudou em todos os momentos. É nisto que podemos marcar a diferença. Acreditamos muito neste projeto e queremos que seja este o futuro.
A segunda divisão representa um grande salto competitivo. Que ajustes é que o FC Porto precisa de fazer? Fizemos o trabalho de casa, acompanhámos quase todos os jogos da primeira e segunda divisões e fomos à procura desse nível de jogo e dessa identidade. Procurámos jogadoras que acrescentam, que trazem qualidade e que nos dão garantias de que somos os principais candidatos à subida.
Qual é o perfil ideal? Tem de ser uma jogadora experiente. Não escondemos que tivemos dificuldades em encontrar o perfil e as características que procurávamos no futebol português e, em alguns casos, tivemos de recorrer ao mercado estrangeiro. Vamos tentar profissionalizar completamente o futebol feminino no próximo ano. Vamos ter uma equipa competitiva, focada no principal objetivo. A segunda divisão exige muita qualidade, a intensidade do jogo é diferente, as jogadoras são mais experientes e têm um perfil que encaixa na Liga BPI. Procurámos trazer algumas jogadoras da primeira divisão para que a adaptação seja real e mais fácil. Podemos prometer uma equipa à Porto.
A mística não se vai perder com a chegada dos novos reforços? Temos jogadoras que já vivenciaram esta experiência e vão poder ajudar os reforços na integração, especialmente as capitãs. Além disso, algumas das novas jogadoras são portistas, outras já passaram por clubes rivais e todas conhecem bem o FC Porto. Com o ambiente que aqui se vive acho que vai ser fácil perceberem, até porque todas elas têm a consciência de que aqui se joga para subir e para ganhar. Acho que rapidamente vão conhecer a identidade e a matriz do clube, porque não existe outro caminho além de vencer.
Onde é que o FC Porto se quer posicionar no futebol feminino a nível nacional e internacional? Queremos muito chegar à Liga BPI e ser uma referência. Mais tarde gostávamos de ser campeãs nacionais e de ir à Liga dos Campeões.
Quando é que isso vai acontecer? Tudo a seu tempo. Temos trabalhado cada vez mais nessa direção, mas não queremos fazê-lo com muita pressa. Sabemos qual é o caminho a percorrer, mas esse caminho leva tempo. No próximo ano queremos subir, depois vamos querer ficar em primeiro e a seguir vamos querer participar nas competições europeias. É este o caminho, mas estamos mais focados no aspeto competitivo, na metodologia do treino e no futebol feminino em geral. Queremos ser a vanguarda do conhecimento, por isso é que estou tão entusiasmado com o protocolo com a FADEUP, vai ser marcante para nós. Não escondemos que partimos atrasados, mas vamos tentar ser uma referência a nível nacional e internacional.
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