“ Quando regressei às Antas, e eu era sempre o primeiro a chegar, vi o prof. José Mota com os apontamentos e a balança e pensei:“ Estou tramado”. Lá fui eu, todo nu, pesar-me. Tinha três quilos a mais. Depois de me equipar, o Artur Jorge chamou-me e perguntou-me:“ Então, João, três quilos a mais?”. E eu respondi:“ A culpa é sua, porque se só tivesse dado um dia de folga, eu tinha um quilo a mais, mas deu três …”
ESPECIAL 40 ANOS
ABRIL 2025 REVISTA DRAGÕES
“ Quando regressei às Antas, e eu era sempre o primeiro a chegar, vi o prof. José Mota com os apontamentos e a balança e pensei:“ Estou tramado”. Lá fui eu, todo nu, pesar-me. Tinha três quilos a mais. Depois de me equipar, o Artur Jorge chamou-me e perguntou-me:“ Então, João, três quilos a mais?”. E eu respondi:“ A culpa é sua, porque se só tivesse dado um dia de folga, eu tinha um quilo a mais, mas deu três …”
Encontra algumas diferenças entre o futebol de agora e o que praticou? Não, é na mesma 11 contra 11. Se olhar para o meu tempo de jogador e comparar ao que existe hoje, encontra-se distinções na nutrição. Naquela altura, cada jogador alimentava-se da maneira que achava ser melhor para ele, enquanto nos dias de hoje é totalmente diferente, há mais controlo.
José Maria Pedroto tentou implementar esse controlo no início da década de 80 … E nós cumpríamos nos estágios. No entanto, não era todos os dias. Lembrome, passados uns anos e já com Artur Jorge no comando, que nos deram três dias de folga. Quando regressei às Antas, e eu era sempre o primeiro a chegar, vi o prof. José Mota com os apontamentos e a balança e pensei:“ Estou tramado”. Lá fui eu, todo nu, pesar-me. Tinha três quilos a mais. Depois de me equipar, o Artur Jorge chamou-me e perguntou-me:“ Então, João, três quilos a mais?”. E eu respondi:“ A culpa é sua, porque se só tivesse dado um dia de folga, eu tinha um quilo a mais, mas deu três …”. Comprometi-me a voltar ao peso ideal até ao final da semana e o certo é que quando chegou a sextafeira tinha perdido três quilos e meio. Podia passar fome toda a semana, mas nas minhas folgas tinha de aproveitar.
Atribui ao ambiente de família e de entreajuda no balneário um fator importante que permitiu somar conquistas atrás de conquistas?
Naquela altura, para vir para o FC Porto não interessava apenas o valor como jogador, mas também o lado do ser humano e acho que essa acabou por ser a escolha certa. Nos anos em que estive no FC Porto, os treinos eram mais agressivos do que os jogos e nenhum jogador saiu lesionado por ter levado porrada. A dureza era enorme, mas sempre na bola para tentar ganhar. Isso levou-nos a jogar num patamar muito elevado. Mesmo as quezílias que por vezes aconteciam eram resolvidas no dia e no balneário. Isso acontece devido ao espírito de camaradagem que sentíamos entre todos. Não interessa ter uma grande equipa se os jogadores não se derem bem entre todos, tanto dentro como fora do campo.
Esse espírito de equipa permitiu à equipa continuar a vencer mesmo com as mudanças de treinador? Era raro um treinador ficar mais de dois ou três anos. No entanto, havia poucas mudanças no plantel do FC Porto. Quando iam buscar três ou quatro jogadores, no jogo de apresentação era sempre o 11 do ano anterior que jogava a titular. Nós até brincávamos com o sr. Reinaldo Teles e dizíamos:“ Por que gastam dinheiro com eles se são os mesmos que jogam?”. Até esses jogadores se riam, era uma boa forma de os integrar. Também era uma boa forma de eles perceberem que o nosso plantel era muito forte e que, para se jogar, era preciso dar à perna.
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