LADO B
SETEMBRO 2024 REVISTA DRAGÕES que ele tinha uma técnica fora do vulgar , mas que lhe faltava a minha cabeça . Ele mesmo o admite . Desde muito novo sempre me ajudou , mesmo com as críticas porque é exigente , mas sempre me passou confiança . É uma pessoa muito importante , tal como a minha mãe , que teve de segurar o barco e ficar na confeitaria quando o meu pai vinha ver os jogos . Foi um trabalho de equipa . Olhar para a bancada e saber que estava lá um familiar era muito importante . O meu avô é muito conhecido porque ia aos jogos todos e dizia-se que fazia o corredor todo a seguir o fiscal de linha . São recordações muito boas e é muito bom sentir que se orgulham do meu trabalho .
As correções em casa e as discussões entre dois especialistas da posição eram muitas ? Havia sempre uma crítica ou uma chamada de alerta . Ele tem um bloco de notas com apontamentos de todos os meus jogos desde os sub-11 em que está lá escrito “ jogou 70 minutos ”, “ tem de jogar mais simples ” ou “ está com a cabeça no ar ”. Eu desvalorizava para ele não ver que ligava , mas era uma opinião sincera que eu tinha de filtrar . Ele olhava só para mim e eu tenho de olhar para a equipa toda . Para ele , sou sempre melhor jogador ou o mais importante .
Ganhou inúmeros títulos na formação , mas nunca se deslumbrou . Foi essa a chave para ter conseguido chegar aos seniores ? Hoje é mais difícil ter-se a cabeça no lugar , falo disso com os meus novos colegas . Tanto se pode subir muito rápido com 17 anos como com 18 descer e eles têm de estar preparados para isso . Chegar aos seniores do FC Porto era mais do que um sonho , algo que achava impossível , e agora quando se entra na formação é mais um sonho porque se consegue idealizar . Quando cheguei aos seniores , já ninguém subia dos juniores há sete ou oito anos , o Hélder Postiga tinha sido o último . Nunca o imaginei e fazia a minha época ano a ano . Nunca fui o melhor jogador da minha equipa , mas fui trabalhando , acreditando , fazendo o que me pediam . Olhava muito ao que os treinadores me diziam e tentava fazer as coisas bem . Como hoje em dia , nada mudou em relação a isso . Tento fazer as coisas certas , seja no ginásio ou a descansar , olho para o que poderá ser melhor para a equipa .
Foi capitão dos apanha-bolas , na formação , nas seleções jovens e depois com André Villas-Boas nos seniores . Regressa agora também com a braçadeira . Por que razão os treinadores o elegem como o maior representante do clube em campo ? É por fazer as coisas certas todos os dias ao invés de fazer as coisas bem num dia e relaxar nos outros . Acho que era isso que eles viam em mim , alguém que trabalhava todos os dias com a mesma vontade de tentar ser um bocadinho melhor . Lembro-me de que na altura , quando o presidente André Villas-Boas me pôs a capitão , foi uma surpresa . Eu tinha 21 ou 22 anos e ele dizer que eu era um dos cinco capitães no meio daquele plantel todo foi extraordinário . Elegíamos o melhor jogador dos treinos e os meus colegas votavam em mim . Ou seja , eu sentia que , embora não jogasse muito , os meus colegas gostavam de mim . Isso para mim era o mais importante .
Tudo isso é o falado ADN Porto ? Sem dúvida . Acho que o ser correto , trabalhador , exigente , querer mais , querer ganhar sem passar por cima de ninguém é algo que sempre me caracterizou . Tentar ser justo , mas com a fome de vencer . Isso e pensar que , quando se ganha , a seguir há algo ainda melhor para ganhar .
É um orgulho para a vida toda ? Com certeza porque é algo tão difícil . Servir de exemplo é algo exigente . Mesmo para mim , ainda agora , ser um dos capitães da equipa B é algo muito exigente . Não quero fazer isto para parecer bem , quero mesmo que eles sintam que vem de dentro , que ser correto é bom . Obriga-me todos os dias a desafiar-me .
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