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Segunda-feira, 31 de julho de 2017

Mais de dez anos de uma tortura que ainda se repete todos os dias

No Brasil, os índices de transfobia cresceram cerca de 20% no ano.

Protestos e passeatas são feitos em busca de legitimação da identidade nas grandes cidades. (Foto: Paulo Pinto)

A verdade é que não importa. Na época segundo a justiça de Portugal, eram apenas crianças que numa brincadeira que foi longe demais tiraram a vida de um marginal. Segundo a mídia, o corpo de um dependente químico, sem teto e doente foi encontrado, e Gilberto, o imigrante ilegal tinha apenas se afogado, mas sorte dele, era para ter sido queimado, mas a fumaça que sairia de seu corpo incinerado chamaria indesejada atenção, e a água foi o meio mais apropriado para enterra-lo.

Sua vida e morte, apesar de sofridos não foram em vão. Sua luta e resistência inspiraram tantos outros que também tinham que lutar e resistir. Lutar para ter a identidade preservada, seja ela qual for, do jeito que for. Resistir para que seus corpos não tenham que pertencer aos outros como o de Gisberta fora, para que o corpo e a mente não sejam assunto dos outros. Lutar e resistir para cada vez menos histórias como de Gisberta se repitam.

Não foram os chutes e pontapés, não foi a madeira nem as pedras atiradas contra ela, tampouco a água que encheu seus pulmões a responsável por sua morte, mas o ódio, em essência, simples e puro o causador de todo o sofrimento, que teve início em sua terra natal e que a perseguiu de São Paulo para além do Oceano Atlântico que um dia atravessou, vislumbrando uma vida pacifica e civilizada, em que pudesse ser quem era e não ser perseguida por isso.

Acontece que o preconceito está em todos os lugares, onde quer que os oceanos se dividam ou se encontrem. Onze anos se passaram e os relatos não cessam. Nomes como Dandara, de Fortaleza; Jennifer Celia Henrique, de Florianópolis; Camila Albuquerque, de Salvador; Lexia Alves de Brito, de Santa Fé do Sul; Bruna Tavares de Pádua, de Ourinhos; e Mirella de Carlo, de Belo Horizonte, se juntam ao de Gisberta, e assim como sua história, esses casos também são marcados pela impunidade. Além das inúmeras dúvidas que surgem a partir desses fatos, uma em particular sempre vai gritar mais alto enquanto esse problema não for resolvido: Até quando?