O observatório que o estudo“ Sociedade em Rede” nos oferece, permite ir ainda mais longe e falar de uma forte tendência para a dualização social sob o prisma do acesso às práticas sociais e culturais no ciberespaço( Cardoso, Costa, Coelho e Pereira, 2015).
Assim, quem afirma viver confortavelmente com o rendimento atual lê mais blogues 39,5 %) e produz mais conteúdos próprios que dissemina on-line( 28,4 %) do que quem diz viver com muita dificuldade com o seu rendimento: apenas 20,3 % lê blogues e só 10,4 % produzem conteúdos.
Também a ideia mirífica de que a participação sócio cultural se poderia furtar, sob o resgate do ciberespaço, à distribuição desigual de recursos e aos percursos longos de socialização, merece ser refutada.
Nuno Nunes( 2013)) realça, através de uma análise secundária de dados do European Social Survey, a importância quer das posições sociais( escolaridade, rendimento, categorias socioprofissionais), quer do grau de confiança interpessoal e institucional, quer das práticas de sociabilidade, quer ainda dos recursos organizacionais e da estabilidade no emprego.
Em suma, não participa quem quer mas sim quem se move em contextos que mobilizam e ativam disposições interventivas. A reflexividade não é um recurso intrínseco, nem independente das condições e contextos envolventes. Ao invés, sabemos bem como é uma competência necessária( embora não suficiente) para a prática política e cívica.
Mas, mesmo em termos gerais, o nível de participação on-line em Portugal é fraco, tal como acontece com o que se passa na esfera off-line.
A grande variável explicativa será muito mais a débil acumulação de capital social que se verifica em Portugal, a par de uma matriz profundamente desigualitária, induzindo uma perceção de distância subjetiva face ao poder e de inutilidade dos intuitos transformadores.
Quadro IV – Proporção de indivíduos com idade entre 16 e 74 anos que utilizaram Internet nos primeiros 3 meses do ano(%) por Tipo de actividades efectuadas na Internet( participação cívica e política
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