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Todavia, a inoperância desta divisão salta à vista. Não faz sentido,
analiticamente, insistir na dicotomia real/virtual mas sim na existência multifacetada
e cruzada de um real-real e de um real-virtual. Nas práticas sociais rotineiras, na
transição entre mundos da vida, na estruturação dos seus repertórios e no
desempenho de papéis sociais cada vez mais diferenciados e interligados, os agentes
sociais articulam as esferas do real-virtual e do real-real. Atentemos, por exemplo, na
utilização dos telemóveis e nos usos sociabilitários da net: mais do que dividir esferas
de existência, articulam-nas: quarto e rua, interior e exterior, sala de aula e vida juvenil,
fugindo ao estabelecimento de fronteiras e aos variados controles institucionais,
reconfigurando a própria noção de espaço público, criando uma espécie de esfera
pública juvenil assente na relação e não na anomia.
Aproximo-me, desta forma, da noção de espaços híbridos insinuada por Castells
(1998), que prova empiricamente que o uso da Internet não diminui a sociabilidade.
O modelo da cumulatividade e não o da soma-zero parece bem mais adequado a estes
cruzamentos, nomeadamente ao transporte das sociabilidades do real-real para o realvirtual e vice-versa.
Olhemos para as configurações dos novíssimos movimentos sociais
(Indignados na Europa; occupy Wall Street; movimento “passe livre” no Brasil e Chile;
Islândia e a wikiconstituição; “geração à Rasca” em Portugal; movimento das praças,
na Grécia…):
um discurso centrado na denúncia do sistema económico e na captura
das instituições e agentes políticos pelo poder financeiro;
a exigência de “mais” ou de uma “verdadeira” democracia;
a juventude precarizada como catalisador de lutas sociais mais amplas;
uma certa recusa da delegação e um cepticismo mais ou menos
ressentido com a ação institucional;
a produção de novas referências plásticas e estéticas;
a ocupação transgressiva do espaço público;
valorização da diversidade de expressão nos protestos de rua.
Em suma, o uso intensivo das redes sociais não emerge como esfera dissociada
da vida, antes como nó de uma rede com tripla referência: metáfora identitária
(indivíduo enquanto rede de papéis sociais), modo de organização, dispositivo ou
ferramenta de mobilização. (Pereira, 2009; Soeiro 2013; Hughes, 2011; Pinto, 2011;
Taibo, 2011; Writers for the 99%, 2011; Pickerill e Krinsky, 2012).
3. O que nos dizem os indicadores em Portugal
Se atentarmos no quadro I, somos levados a realçar a rápida disseminação da
internet de banda larga nos lares portugueses.
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