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Conferência inaugural

Conferência inaugural

PARTICIPAÇÃO SÓCIO CULTURAL E MUNDOS DIGITAIS: novas oportunidades, novos constrangimentos
JOÃO TEIXEIRA LOPES Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, Portugal jlopes @ letras. up. pt
1. Nota introdutória
Nem apocalípticos, nem integrados: com esta sábia sentença, Umberto Eco distanciava-se quer das visões pessimistas e fatalistas que viam na emergência da cultura de massas uma espécie de decadência inexorável da condição humana( à semelhança de Adorno e Horkheimer), quer dos apologistas ingénuos ou interesseiros que proclamavam o advento de uma redentora democratização.
Creio que o mesmo lema se poderá aplicar, mutatis mutandis, aos discursos dominantes sobre a aceleração sem precedentes da chamada“ sociedade da informação” e que encontra no ciberespaço e nos seus usos um estrondoso indicador. Uns, cépticos, realçam a disseminação de uma iliteracia digital em que os agentes sociais não conseguem decifrar as torrentes caudalosas de informação, incapazes, por isso, de a transformar em conhecimento e em práticas de mudança. Outros, ufanos, proclamam as mil e uma possibilidades de auto conhecimento e de emancipação que as novas tecnologias proporcionam.
Pela minha parte, gostaria tão-só de restituir aos usos da sociedade da informação, particularmente aos que se desenrolam sob a égide da internet, a modesta designação de práticas sociais: enraizadas num determinado espaço social, mediadas por contextos e quadros sócio-culturais e circuitos de significação, protagonizadas por agentes com origens, trajectórias e projectos assentes em graus desiguais de recursos.
Esta é a hipótese que tentarei demonstrar neste texto.
2. Espaços híbridos ou esfera dissociada
São já um lugar-comum da vulgata sociológica as teses de Anthony Giddens( 1992) sobre descontextualização / recontextualização da acção humana através da separação entre espaço e lugar mediante a proliferação das interacções à distância. O espaço, diz o autor inglês, torna-se fantasmagórico porque descolado dos cenários físicos de interacção face a face.
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