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Há uma semana, mais de 800 imigrantes ilegais que tentavam alcançar a Europa morreram na costa da Líbia após o barco que os levava naufragar. Os pouco mais de vinte sobreviventes informaram às autoridades italianas que os resgataram que muitos dos mortos eram mulheres e crianças, que viajavam trancadas no porão da embarcação. A tragédia motivou reuniões de emergência e voltou a acender a luz vermelha nos gabinetes da União Europeia (UE) em Bruxelas. A Europa enfrenta um sério problema com a afluência de imigrantes ilegais que se arriscam na travessia do Mar Mediterrâneo em barcos precários e ainda está longe de resolver a questão.

A complexidade e a gravidade do problema com a imigração exigem múltiplas ações, coordenação política afinada entre os 28 países do bloco europeu e, claro, muito dinheiro. Yves Pascouau, diretor de políticas de imigração do Centro Europeu de Políticas Públicas, em Bruxelas, acredita que do

ponto de vista econômico, a Europa é capaz de absorver os imigrantes econômicos (que buscam emprego e melhoria de vida) e os refugiados (que fogem de áreas de conflito). O grande problema é o custo político que os governos nacionais teriam de enfrentar. "Nem todas as pessoas contrárias à imigração são xenófobas e racistas, mas elas apenas não confiam mais nos partidos convencionais e por isso votam em plataformas de extrema-direita, mais nacionalistas. Os partidos de extrema-direita estão capitalizando essa frustação e hoje fazem parte do jogo político em muitos países. Isso tem um efeito forte na agenda política e está ficando cada vez mais difícil discutir o problema em alguns países e mesmo em nível continental. Em outras palavras, o problema se tornou tóxico para o discurso e as ações políticas".

Há ainda questões políticas que contrapõem países do sul do bloco (Espanha, Itália Grécia, Malta e Chipre) às nações do norte. "Não é inteligente para a UE opor os países do sul aos do norte. Mas é verdade que a Itália e a Grécia estão enfrentando uma situação extrema e estão tendo um trabalho muito árduo. Já alguns Estados do norte estão tendo que lidar com o oferecimento de asilo, enquanto outros não estão muito comprometidos da forma como deveriam estar", diz Roderick Parkes, consultor do Instituto Alemão de Relações Internacionais. "Há países europeus do Norte que não aceitam discutir a imigração e querem que a Itália, Espanha, Grécia e Malta sofram sozinhos. Este é um fracasso político da Europa", acrescenta Pascouau.

Outra crítica dos especialistas diz respeito ao tempo de resposta da UE, que teria demorado muito em agir. Martin Baldwin-Edwards, do Centro Internacional para Políticas Migratórias, em Viena, afirma que "não existe e nunca existiu uma política europeia de imigração". Para ele, "há muitas peças de legislação em diferentes países, mas não há um acordo político sobre muitos pontos, exceto o desejo de manter os imigrantes fora da Europa". Para Baldwin-Edwards, a Europa deve aceitar cotas de refugiados de zonas de guerra ou de países em crise e deve distribuir essas pessoas em toda a UE. Apesar das altas taxas de desemprego, há na Europa muitos postos de trabalho que estão vagos. "Isso é um fato. Há trabalhos que os cidadãos da UE simplesmente não querem mais. Basicamente falando, são os 'DDD jobs' [empregos sujos, perigosos ou pesados, tradução de dirty, dangerous and demanding jobs], e os refugiados poderiam preencher essas vagas", explica Pascouau.

Direito Matutino 2015/2

Brendom Batista|Marielle Souza|Ana Paula

Novas ações - Nesta quinta, após a reunião com os chefes de Estado da UE, o bloco anunciou que irá triplicar o tamanho da missão de buscas navais no Mediterrâneo. A UE deu garantias de que haverá capacidade, recursos e alcance comparáveis à operação italiana Mare Nostrum, que acabou há seis meses e foi substituída por ações menores: a Triton, liderada pela Itália, e a Poseidon, comandada pela Grécia. Outra medida anunciada é uma possível operação militar contra o tráfico de pessoas a partir da Líbia - principal área de onde partem os imigrantes ilegais. Mas, para realizar ações militares que podem envolver incursões em águas e territórios líbios, a União Europeia precisa da autorização legal das Nações Unidas.

O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi disse que França e Grã-Bretanha apresentarão uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de obter o aval para a operação militar. A empreitada está a cargo da chefe da diplomacia europeia, a também italiana Federica Mogherini. E o objetivo da ação é "capturar e destruir" os barcos utilizados pelos traficantes de pessoas. Ainda não estão definidos os países que integrariam essa força naval conjunta europeia e tampouco outros fatores, como tamanho da esquadra e a quantidade de soldados que seriam utilizados.

O desafio da imigração na Europa: problema enorme para soluções pequenas

A complexidade e a gravidade do problema com a imigração exigem múltiplas ações, coordenação política afinada entre os 28 países do bloco europeu e, claro, muito dinheiro

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