LOURENÇO BRAY
─ Há uma antena muito grande em Monsanto.
─ Sim, o Centro Retransmissor de Monsanto.
─ Então, aproxima-se as pipocas da antena, dentro de
um saco de papel e esperar um bocado, passado meia hora
começam a estoirar.
─ E ficam boas?
─ Não! ─ estendeu as patinhas em súplica, com as
palmas para cima ─ Horrível! Horrível horrível horrível!
Deitava a pequena língua rosada de fora e cuspinhava.
Depois começou a massajar o focinho como que para
regurgitar pipocas ali à minha frente.
─ Como é que ficou horrível? Pipocas são pipocas,
Guaxinim.
─ Algumas rebentam logo e outras só no fim e então as
que rebentam primeiro queimam todas e não se podem
comer porque dá cancros. Tens de ir ao hospital, tratar dessa
cara. Olha para ti. Tens de ir! Olha aqui... ─ estendeu-me a
pata.
─ O que foi?
─ Olha! Olha para aqui! Não vês?
Não via nada na pata dele, só um pouco de pêlo a
despontar por entre as almofadas coçadas e as garras
lascadas de esgravatar o buraco debaixo do muro da prisão.
─ Não vês? Aqui, ó! Está infectado. Um espinho. Até
me custa a andar. Não dá para ver. Posso ficar sem a pata.
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