MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS
Vamos descrever a cela. A cela tem quatro por seis
metros e nela reúnem-se todas as comodidades que podemos
encontrar numa divisão deste tipo: uma cama de metal
ferrugento, coberta por um colchão de esponja mole que
absorve a humidade do ar, o que é positivo por um lado, mas
que, por outro lado, a liberta toda de uma vez ao ser
espremido pelo meu peso quando me deito em cima dele. Há
muita humidade aqui. Por cima do colchão, um cobertor
esburacado e uma almofada raquítica e luzidia de sebo,
algum dele meu. Os buracos do cobertor permitem a fácil
evaporação da humidade do colchão. O sebo impermeabiliza
a almofada. Nem tudo é mau. No canto em frente à porta,
uma sanita toda em metal, com um rolo de papel higiénico
de folha simples, dos mais baratos, e um lavatório
minúsculo, com uma torneira de água fria quase calcinada
por
oxidação
e
verdete.
Para
a
minha
higiene,
disponibilizam-me sabão macaco em pequenas porções, não
vá eu gastá-lo todo de uma vez a fazer bolhinhas até encher a
cela num banho de espuma. O guarda Neves tem uma piada
recorrente quando lhe peço mais um pouco de sabão. Diz-me
assim, o Neves: 'queres mais sabão, macaco?' E depois ri-se,
mas ri-se sozinho que eu não acho piada. Prefiro, mesmo
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